A passeata de motos em São Paulo, no último sábado, revela uma caraterística do atual presidente da República: a de não perder contato com a população. Ele tem saído de Brasília praticamente todas as semanas, para todos os cantos do país, em viagens de inauguração, inspeção, celebração, confraternização – enfim, por vários motivos, mas o principal é sentir o povo. Onde quer que vá, é alvo de demonstrações. A de sábado foi uma reunião de motociclistas e motos, que um dos participantes, o ministro Tarcísio, calcula em 120 mil veículos.
A região mais visitada nessas viagens semanais, tem sido a do Nordeste. Esteve, há duas semanas, nos confins do noroeste brasileiro, na região da Cabeça do Cachorro, onde conviveu com brasileiros cujos ancestrais já estavam aqui quando Cabral chegou, e inaugurou uma ponte de madeira, recém-refeita. Tem feito isso às quintas-feiras e sextas-feiras, e em alguns fins de semana aproveita para visitar de moto a periferia de Brasília.
Outro dia escrevi aqui sobre os males de quem se isola na bolha de sua atividade e fica alienado do Brasil real. Não é o caso do presidente, que em campanha eleitoral percorreu o país inteiro. E depois de eleito, não se recolheu aos palácios da Alvorada e do Planalto. Continua percorrendo o país, sondando, ouvindo, aprendendo, sentindo. Costuma entrar no boteco, na padaria, na sinuca, pede licença para entrar nas residências – onde gosta de conferir o abastecimento da geladeira.
Aí se entende porque o porta-voz ficou ocioso e o cargo foi extinto. O presidente não tem intermediários. Nunca teve. Ganhou a eleição sem marqueteiro. Porta-voz de si próprio, deixa seus recados nos encontros quase diários com os que vão ao portão do Palácio Alvorada, residência oficial. Contato direto, espontâneo, com todos, inclusive com essa multidão recordista de motociclistas que foi por conta própria. Por isso, seu gabinete no palácio não corre o risco de ser ilha da fantasia. O contato com o povo, sem intermediários, o imuniza dos áulicos de corte.