Ruínas
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quinta, 18 de agosto de 2022

Na missa de Pentecostes, o Papa Francisco falou que a humanidade enfrenta risco de sucumbir nos abismos que ela mesma cavou. Ele usou a palavra “ruína”, um estágio terminal das civilizações, impérios e sociedades do passado. A imprensa internacional gasta boa parte do tempo falando de violência, fome, exclusão, guerras, genocídios, corrupção. Continua dizendo o Papa que a civilização atual está moribunda, e a maioria não se dá conta. Como no tempo de Noé, o sistema de poder mascara a gravidade da crise induzindo falsa sensação de que tudo vai bem. Outra parte de tempo dos meios de comunicação é usada para estimular o consumo e a diversão.
As festas juninas ou Carnaval, que seduzem milhões de festeiros, exemplificam a afirmação. Determinadas cidades cobertas de lama e escombros causados pelas cheias buscam compensar o caos oferecendo momentos de lazer às custas de cachês milionários pagos a animadores. Justificam o investimento absurdo dizendo que cantor famoso mobiliza multidões e cria ambiente favorável para estimular a produção e o consumo.
Seria, também, sinal de ruína da civilização a nova onda de influenciadores digitais. Cresce a legião dos que fazem de si mesmos o objeto de divulgação. Praticam o culto do narcisismo. Apresentam-se como protótipos de vencedores, sujeitos bem sucedidos. Intermináveis horas de noticiários foram dedicadas ao roubo no apartamento de influenciador digital que exibia em suas aparições relógio de um milhão. Mas, maior indício de ruina de uma época não é o que ele fez, e sim, a recepção, por seus seguidores, dos atavismos e futilidades que ele aprecia. Milhões de jovens gostariam de ser e viver como ele. Esta geração afundada na mediocridade refuga modelos de vida advindos de jovens dedicados a fortalecer projetos de ética universal. A universidade, por exemplo, pouco estimula os acadêmicos a se tornarem “Médicos sem Fronteiras”. Mas, eles aprendem fácil como ganhar dinheiro e viver segundo a lógica do poder e da fama.
A escritora polonesa Olga Tokarczuk, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura com o romance “Sobre os Ossos dos Mortos.” Uma fábula filosófica sobre a vida e morte. Diz que a atual civilização está se tornando um sítio de ossos de mortos, fazendo lembrar o vale dos ossos ressequidos descrito pelo profeta Ezequiel, capítulo 37. Segundo ela a natureza começa a se vingar dos homens por sua violência desmedida.
Outro sinal da ruína da civilização é protagonizado pelo prior dos influenciadores marotos, os que não distinguem a verdade da falsidade. Como mestre da hipocrisia ele passou a se apresentar como professor. Senta numa roda de jovens e deita lições sobre a família, Deus e o diabo, sobre o que vale a pena fazer para ser cidadão resolvido. Ocorre que este mesmo “professor” que fala da família já teve cinco esposas e, parece que educou seus quatro filhos na escola da malandragem. Todos eles são investigados por praticarem atos que ferem a base da família, a essência da religião, os pilares da sociedade honesta. Fala de Deus como se fosse pregador, mas faz da mentira seu maior instrumento para influenciar a juventude. Em cada igreja onde comparece finge ser fiel desta igreja, mas é infiel a todas elas. Proclama-se patrono da governança honesta, mas cerca-se de salteadores.
A história das civilizações ensina que sua ruína sucedeu de situações em que a maioria já não percebia mais que a decadência corroía seu o interior. Pior, esta maioria imaginava-se eterna e o que ocorrera com outras formações históricas não aconteceria com ela.
Entre milionários animadores de festas, influenciadores digitais narcisistas e professores fajutos, Betiato, teólogo e professor da PUC Pr, sugere prestar atenção ao que diz o Papa.
 

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