Os protagonistas do retorno
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segunda, 02 de agosto de 2021

Resido a duas quadras da URI. Sim! Sinto-me imensamente grata por estar a cinco minutos do meu trabalho. Há dias que vou caminhando e aproveito o vento no rosto para conversar comigo e com Deus. 
Há alguns dias, encontrei um ônibus estacionado na frente da praça, que fica do outro lado da avenida da nossa universidade. Olhei... Pensei... Ônibus? Sim! Ônibus! Nossa! Como é bom ver ali um ônibus. Uma mensagem de algo que começou a acontecer... O retorno.
E então, faltando poucos passos para chegar até o portão, desenhei o caminho de como seria minha chegada a uma sala de aula com alunos. Sei que há colegas que já viveram isso, mas eu só terei essa honra na próxima semana. 
E assim meu imaginário ganhava a seguinte narrativa: chego, vou até a sala da coordenação saber onde será minha sala de aula. Encontro colegas. En-con-tro! Olho nos olhos, sorriso no olhar e sei que vou sorrir tanto que minha máscara vai ter que ser arrumada mais de uma vez. No corredor vou encontrando um colega, um aluno, falo com um, com outro, e vou seguindo.
De repente abro a porta da sala. Ali estão eles. Os protagonistas do retorno. Os olhares e as falas tomam conta de todos. Eu fico ali, com os olhos marejados, passando o olho um a um como se fosse abraçar. Respiro, sinto o cheiro de gente. Fico aqueles segundo só deleitando naquela alegria que é a chegada de mais um, de mais outro e daqueles que começam a contar história e dizer “profe”... “profe”...
Ainda paralisada, emocionada e absorta pelo que estou vendo, começo a dar os primeiros passos até a mesa para deixar meu material. Vou até lá olhando para eles, sorrindo com os olhos também e ouvindo, ouvindo muito aquele barulho de mesas e cadeiras arrastando, de conversas próximas e distantes.
Coloco meus livros na mesa. Apoio-me nela, distante de suas classes. Vejo seus olhos, vejo máscaras de todas as cores. Vejo gente com tanta história. Vejo meus alunos! Miro como quem faz a chamada e um a um meu olho vai tentando trazer à memória seus nomes, suas vidas. Alguns ainda assustados, não falam muito. É proibido se aproximar, se abraçar.
Viro para trás, pego o giz. Sim, tem que ser giz! E começo a escrever. Bem-vindos, meus queridos alunos! Mas é um bem-vindos com um tamanho imensurável, desses que a gente tenta entender e nem sempre consegue explicar.
É um “bem-vindos” para os protagonistas da VIDA, do recomeço, da resiliência, da coragem, da força e de quem ACREDITA que é na corresponsabilidade, nos cuidados mais íntimos e mais coletivos que vamos vencer essa batalha.
Nesta segunda-feira, milhares de crianças e jovens do Brasil passam a ser protagonistas de uma Pedagogia do Encontro, da responsabilidade e do cuidado. Bem-vindos à vida e cuidados protocolares para seguirmos cuidando de quem amamos.
 

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