Banho de loja
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sexta, 13 de setembro de 2024


Dei uma olhada no roupeiro e cheguei à conclusão que estou precisando de um pequeno banho de loja. E vou ter que priorizar a compra de umas três ou quatro camisetas, já que minha turma, lá, anda bem surrada. Gratidão a Deus por tê-las, mas está na hora de reforçar o time.

Não sou muito frequentador de lojas, normalmente peço para minha esposa levar para casa algumas sacolas de forma condicional para experimentar e escolher as peças com calma. Prefiro assim, fugir da pressa de ter que comprar algo de forma rápida em virtude de meia dúzia de coisas para fazer e acabar achando, depois da compra, que tal peça não ficou boa. Sei lá, coisa de perfil mesmo.

As camisas ali no roupeiro “me olhando” e eu olhando para elas. Se tivessem vida, elas certamente saberiam o quanto cada uma delas representa para mim. Cada história vivida, momentos bons, outros nem tão bons, aquela que no dia X foi usada para algo marcante, a camisa da superstição que sempre foi usada nos jogos do meu time, enfim. Me atrevo até mesmo a corrigir o termo “se tivessem vida”, pois muitas vezes fico pensando que lá no fundo elas podem ter mesmo.

Abrindo um parêntese e falando de superstição, um dia questionei um amigo quanto a usarmos uma determinada camisa no dia do jogo do nosso time. Por exemplo, o que adiantaria manter esse ritual se nem toda partida a gente ganha? Aliás, mais sofre do que se alegra... E a resposta dele foi quase um soco no queixo: “ganhar e perder é do jogo, mas a camisa representa a esperança”. Pura verdade. No próximo a gente vai estar lá, de novo, com ela e com a fé.

A parte boa da minha passada de olho no roupeiro foi que vi vários cabides desocupados. Sem querer me promover aqui, mas gosto muito de doar roupas e eventualmente faço esse tipo de movimento. Se estão sobrando cabides é sinal de que um pouco de minha história está por aí, fazendo um tantinho de diferença na vida de várias pessoas. E isso faz um bem danado para a gente, diga-se de passagem.

Está mais do que na hora de perdermos nossa arrogância em acharmos que camisa ganha jogo. Falo da Seleção Brasileira. Esse negócio de pedir para respeitarem a amarelinha pentacampeã já está ficando nojento. Nem a Venezuela respeita mais. Inclusive, a Venezuela está jogando um futebol bem melhor do que o nosso. E com todo respeito ao Paraguai ou a qualquer time, nessa semana perdemos para o goleiro reserva do Botafogo e para o atacante do Cuiabá. Chega de jogador de time médio da Inglaterra achar que é o gás da Coca-Cola ou a última bolacha do pacote.

Estou começando a pensar que felizmente aumentaram as vagas para a Copa do Mundo. Se fosse mantida a regra anterior, do jeito que estamos naufragando, estaríamos sujeitos a ficar fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez em quase 100 anos.

Talvez estejamos no pior momento da história de nossa Seleção e necessitamos com urgência de um banho de loja. A amarelinha antiga pode e deve permanecer no roupeiro, mas a turma atual precisa entender que ela nunca vai ser protagonista se não assumir a responsabilidade, se limitando a apenas bater no peito, mostrar as cinco estrelas e viver do passado.
 

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