As enchentes avassaladoras do RS ativaram um fenômeno chamado “jornada do herói”, exigindo que os líderes fizessem a gestão da calamidade em curso e fossem porta-vozes de todo o processo. No caso em questão, o governador Eduardo Leite passou a ocupar naturalmente o status de herói do Estado, disputando o espaço com o interlocutor do governo federal, Paulo Pimenta, que se tornou a referência por, supostamente, ter consigo, a “chave do cofre” para a reconstrução do Estado.
Entretanto, a jornada do herói é constituída por muitos heróis locais. Neste cenário, os Prefeitos foram e estão sendo protagonistas de três estágios: o socorro, o apoio e a reconstrução.
a) o processo de socorro persistiu durante todo o mês de maio. Esteve associado a diferentes situações de amparo à vida, desde o salvamento, colocando as pessoas em segurança, lhes garantindo alimentação e abrigo;
b) o segundo momento é o de apoio. É o momento em que estamos vivendo agora, que mistura necessidades objetivas com sentimentos de toda ordem, exigindo que os “heróis” tenham uma narrativa motivacional e ações efetivas de curtíssimo prazo. O apoio tem relação direta com a retomada da vida, compreendendo os diferentes níveis de realidade. Alguns precisam de suporte para voltar para casa, muitos precisam de ajuda para se reerguer e outros, precisam de casa.
c) a reconstrução é algo de médio e longo prazo, mas que os Prefeitos precisam manter a comunicação permanente com a população, alertando sobre os diferentes estágios, que oscilam entre o planejamento, o protocolo de projetos no governo estadual e federal, o acompanhamento, passando pela cobrança ativa até o momento em que as entregas sejam efetivamente realizadas.
As pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião após as enchentes mostram que a população gaúcha “confia, desconfiando” das promessas e investimentos, pois precisam de algo em que acreditar.
No momento, vivemos o “quem dá mais” em pix: o governo do estado repassando metade do valor do governo federal e algumas prefeituras fazendo contas para repassar a metade do valor do governo do Estado.
Entretanto, como a dicotomia faz parte do julgamento humano, o herói pode virar facilmente vilão, se não estiver preparado ou não tiver respostas adequadas para os momentos de “culpabilidade”, por falta de ação ou sensibilidade com algum dos estágios ou por não cumprir as promessas realizadas.