Discórdia
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sexta, 01 de dezembro de 2023

O dicionário cataloga sinônimos de discórdia: “desarmonia; desentendimento; desinteligência; desavença; desordem; luta”. E da palavra luta, seguindo seu significado, pode-se pular para “guerra”.
O livro de Provérbios relaciona, no capítulo 6, 16-19, seis coisas que Iahweh (Deus) abomina, dentre elas “o que semeia discórdia entre irmãos”. Em outra citação, chama atenção para a perenidade das desavenças entre irmãos. São as mais difíceis de serem pacificadas.
O que a Bíblia nos diz ajuda a entender o que está acontecendo entre israelitas e palestinos. Ambos são filhos do patriarca Abraão. Os palestinos descendem do filho de Abraão com a escrava egípcia e os israelitas descendem de Isaac, filho de Abraão com Sara.
A guerra que vemos hoje, confronto marcado por ódio, fanatismo e vinganças, começou dentro da casa de Abraão. O texto sagrado diz que Sara, sendo estéril, aceitou que seu marido coabitasse com uma escrava. Embora a poligamia fosse admitida naquele povo, podemos imaginar o quanto terá sido amargo para Sara ver sua rival dar ao seu marido o filho que ela não podia dar.
Mas, segundo o texto sagrado, o filho da promessa ainda não era o que nasceu da escrava. E Sara pode engravidou. Isaac seria aquele que faria de Abraão o pai de uma grande nação. Mas, Sara foi desenvolvendo antipatia por Ismael, o filho da escrava, mesmo que fosse o primogênito do patriarca. Era costume, também, que o primogênito herdava a herança material e simbólica da família. No caso, seria Ismael, o tronco desta grande família. Mas, Sara impôs que Abraão desse sumiço no menino, já crescido. É possível, que o sacrifício que Abraão iria fazer de seu filho não fosse Isaac, mas Ismael. Assim, cumprindo rito religioso primitivo, Abraão sacrificaria Ismael que era seu primogênito e atenderia a ordem de Sara de dar um fim em Ismael.
Ismael e sua mãe foram tocados de casa. Foram viver no deserto. De uma casa onde havia de tudo, passaram a viver as agruras da areia inóspita. Talvez, como João Batista, se alimentassem de gafanhotos e mel silvestre. Nesta dura condição, Ismael desenvolveu alma resistente.
Enquanto os descendentes de Isaac não suportaram a seca que se abateu sobre Canaã, os descendentes de Ismael se multiplicavam no deserto. E ocuparam a terra que Iawweh havia prometido aos filhos de Abraão. Os filhos de Sara acabaram escravos no Egito. Após 450 anos conseguiram a liberdade. Inspirado por Iaweh, o líder da travessia, Moisés focava conquistar uma terra longe dos Faraós, a terra que Abraão dizia ter sido prometida por Iaweh, quando o clamou lá Mesopotâmia. No deserto, o povo que descendia de Issac passou a ter as provações que os filhos de Ismael suportaram desde o início. Josué, que sucedeu o comando de Moisés, formou exército disciplinado para enfrentar os povos que habitavam Canaã, os filhos de Ismael. Os espiões relataram que aquele povo era constituído de gigantes. Não seria fácil derrotá-lo. Josué acreditava que Iaweh era o “Senhor dos exércitos” e que haveria de comandar a guerra de conquista da Terra Prometida. Nesta guerra de conquista, 31 povos foram destruídos, sem dó e sem piedade, pelo exército violento de Josué. Feita a limpeza étnica, e eliminada parte da descendência de Ismael, na terra arrasada pela fúria de Josué, ali foram instaladas as “doze tribos de Israel”, o povo que passou a proclamar-se “povo de deus”.
A guerra entre palestinos e judeus já dura cinco mil anos. Começou dentro da casa de Abraão, nosso patriarca da fé. Venerado também pelos cristãos e maometanos. Um palestino, que foi escorraçado de seu pequeno lote de terra pelos soldados de Israel, disse que “enquanto houver uma mulher palestina grávida, a luta continuará”.
A discórdia não terminará. A guerra entre “primos” não terá fim. Mais do que uma bênção, o chamado de Abraão parece ter sido uma maldição.
 

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