A gente nem percebe mas começa e termina o dia com o celular na mão, utilizando a internet para saber a previsão do tempo, o que está acontecendo nos grupos do “Zap”, olhar as redes sociais, ver a agenda ou saber das notícias do dia. Dizer que o smartphone é uma extensão do nosso corpo já é quase que um clássico e não é à toa, pois 64% dos brasileiros declaram que levam o celular até para o banheiro.
As pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião identificaram que a população passa, em média, 5 horas conectada ao smartphone. Contando o tempo de tela (telefone, computador e televisão) esse tempo chega a 8 horas por dia.
Para compreendermos como estes equipamentos estão tomando conta da nossa rotina é só fazer uma conta básica. Pensando em um dia de 24 horas temos a seguinte lógica: 1/3 passamos dormindo, 1/3 fazendo as nossas obrigações diárias e 1/3 presos a telas. Claro que a sequência não funciona bem dessa forma, não é algo estanque. O celular vai entrando e ocupando diferentes espaços do dia. As pessoas acessam a internet no trabalho, na escola, na rua, no transporte, no meio da noite e assim por diante.
Quando nos damos conta dessa realidade fica mais fácil compreender por que o tempo parece passar tão rápido, criando a sensação de que não temos tempo para nada.
A verdade é que o mundo virtual tira um terço de nosso tempo no mundo real. Se olharmos para um dia como um gráfico de pizza e dividirmos em três partes, fica visível o tempo que gastamos com troca de mensagens, vendo a vida dos outros, lendo textos de autoajuda, olhando receitas ou sendo impactados por comerciais e Fake News. E se a pessoa gosta de acompanhar séries ou jogar na internet, o dia é ainda menor.
Se prestarmos atenção na maneira como as crianças e os adolescentes estão sendo criados nessa era digital, vamos nos dar conta de que o mundo, para eles, está associado a uma tela e a nova geração está sendo educada pelo Google ou pelas assistentes virtuais. Até pouco tempo atrás as crianças faziam perguntas complexas ou existenciais para os pais ou avós. Hoje elas perguntam para Google se existe Papai Noel, Deus ou quando será o fim do mundo. E não para por aí, há crianças que ficam esperando que uma assistente virtual, como a Alexa, diga que as ama. Em muitos casos, até as piadas são contadas pela assistente virtual, a criança rindo com o celular em uma peça enquanto os pais estão em outra, com o celular na mão.
É importante percebermos que a internet não está tirando apenas o nosso tempo e mudando a forma como nos relacionamos com as outras pessoas, ela também está alterando a nossa forma de viver, consumir, trabalhar e nos tornando mais individualistas, mais egoístas e por consequência, mais solitários.
A solidão tende a ser o mal dessa era de transformação digital que estamos vivendo, primeiro por ser um período de transição, mas também pelo estilo de vida mais individualista e pelo menor contato presencial com familiares e amigos.
O princípio é simples, quanto menor o sentimento de comunidade e coletividade, maior será a sensação de isolamento. É para isso que precisamos olhar e refletir, para esta difícil equação que se forma: estamos mais sozinhos porque estamos na internet ou estamos na internet porque estamos mais sozinhos?