Tênis de língua alta
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terça, 26 de setembro de 2023

Na época que eu imaginava que poderia ser baterista de uma banda de rock, meu sonho de consumo era uma bateria da Pearl. Invejava o Lars, do Mettalica, e sua performance. Eu queria ser o Lars. Mas a bateria da Pearl era uma das mais caras que havia e assim meu sonho foi se esvaindo aos poucos, até falecer.

 

Quem aí se recorda daqueles tênis de língua alta, sucesso nos anos 80? Aqueles Le Cheval da vida, lembra? Demorei para ter um, se bobear o preço dele nos dias de hoje iria equivaler a uma TV de 70 polegadas. Custava o olho da cara, nem todo mundo conseguia comprar. Eu consegui, foi bem suada a conquista, mas não era tênis para a minha linhagem, digamos assim.

 

E quando eu quis trocar de nome? Menos mal que as crianças, falo pela minha época, eram inocentes. Sobre o fato: eu e um amigo fomos ao Cartório para verificar sobre a possibilidade de trocarmos de nomes. O dono do cartório, amigo de nossa família, tratou de dizer que era caríssimo para fazer aquilo e acabamos desistindo. Somente depois, bem depois, eu soube que ele se divertiu com aquela situação e contou para meus pais sobre a ideia mirabolante.

 

Li várias vezes para me certificar se era verdade o que eu estava lendo sobre os valores dos ingressos para a primeira partida da final da Copa do Brasil entre Flamengo e São Paulo, domingo passado, com bilhetes chegando a custar até R$ 4.500,00. Sobre o jogo de volta, neste domingo, não foi tão salgado em comparação ao primeiro jogo, mas também muito fora da realidade não apenas do futebol brasileiro, como do país de forma geral. Aliás, tivemos uma renda de mais de R$ 26 milhões no primeiro jogo, a qual, dividindo pelo número de pagantes, deu em média o valor de R$ 400,00 por ingresso. Repito, em média. Absurdo.

 

Está na hora de o futebol brasileiro voltar a ser do povo e de pararem de tentar copiar tudo o que a Europa faz. Até porque lá, não generalizando, embora existindo na maioria dos grandes centros da bola, pobre não entra em estádio. Aqui, se o pobre não entrar, o futebol acaba perdendo muito do seu sentido. Sinceramente não sei como não enxergaram isso ainda.

 

Em um mundo capitalista como o nosso, quem tem mais pode mais, quem tem menos pode menos. E isso nunca vai mudar. Poderá ser menos injusto, mas não mudará na essência. Se você não tiver R$ 500, ou R$ 1.000,00, talvez R$ 4.500,00 para entrar em um jogo, vai ter que acompanhar pela TV mesmo. E se bobear, caso desejar levar a família junto, você terá que pegar empréstimo no banco. Saudade daquele Maracanã de antigamente, quando o pobre entrava no jogo, se fantasiava de super-herói e levava alegria para o estádio.

 

Eu até acredito nesse negócio de que o sol nasceu para todos. A parte que eu questiono é “que percentual do sol” cada um tem por direito. E eu, ingênuo, só queria trocar de nome e ter um tênis de língua alta imaginando que gastaria pouca coisa...

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