As festas do padroeiro
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terça, 29 de junho de 2021

Pediria ao leitor desculpas por este tropeço nostálgico. Embarcarei no carro do tempo e darei marcha à ré. Estamos na década de 40. Como eram as festas do padroeiro nas nossas localidades? Começo por Vista Alegre. Esta vila e Taquaruçu do Sul sempre viveram com rusgas, pior que Gre-Nal. Mas meu pai não perdia uma festa de Vista Alegre, apesar da inimizade das vilas. Era pela devoção ao “Sacro Cor de Jesù” (Sagrado Coração de Jesus). E lá estava ele nos primeiros bancos, ostentando a fita vermelha do Apostolado da Oração. Foi o primeiro impulso para eu virar COLORADO. 
Depois dava um chego ao jogo de cavalinhos, pois a sorte lhe sorria. Chegou a fazer três vezes seis com o dado. Eu carregava aqueles troféus de “la suerte” com orgulho. Vinham depois as festas de Taquaruçu, com São Roque, dono da localidade, desfilando no andor com seu inseparável cachorro. E o povo, entoando o ‘Queremos Deus’, fazia ribombar nas matas o canto saído daquelas potentes caixas torácicas. Eu me sentia participante desta sinfonia, embora não tocasse nenhum instrumento. As ruas para a procissão eram demarcadas com galhos de laranjeira do mato, cravadas ao longo da caminhada. As ramadas, que cobriam os locais dos jogos e a tendas de bebidas, eram cobertas com ramos de coqueiro e taquaruçu. Não existia ainda o Ibama... E a luz elétrica ainda não tinha chegado. A cerveja era refrescada com serragem molhada! O “gasosão do Basso” fazia a delícia dos devotos. O que guardo na lembrança era a Novena do Santo, durante as nove noites. Eu não era impelido por sentimentos espirituais. É que após a novena, ocorria um festival de fogos luminosos, que ao cair, transformavam-se em estrelinhas multicores. Um show.
As festas de Sete de Setembro tinham um plus que fascinava. Na entrada da igreja, eram cravados inúmeros canudos de taquara, cujas pontas eram repletas de flores. Davam a impressão de gigantescos vasos floridos. Hoje, correriam mundo, por meio dos faces. De manhã serviam uma sopa substanciosa, a tradicional “minestra” para os italianos. Lá pelas tantas, um estrangeiro, vendo que todos se refestelavam com tal iguaria, também pediu um prato de “finestra” (em italiano é janela). Imaginem as risadas dos gringos, que por natureza já são meio rudes. Na antevéspera da festa, espalhavam-se volantes, invariavelmente apresentando “SUCULENTO churrasco, doces e bebidas EM GERAL e jogos A CONTENTO DE TODOS”. 
Aqui em FW, a cidade era acordada com ALVORADA FESTIVA. A missa para os festeiros era uma parada obrigatória, seguida do fumegante MONDONGO. Durante o dia, os jogos animavam os devotos, salientando-se o dos cavalinhos, da pesca, do bingo, da cadeia e do coelho. Consistia em adquirir uma ficha que identificava a “toca” em que o coelho entraria. Este suspense era acompanhado de gritos estimulando o animal a entrar na “toca” que carregava o número adquirido. Infelizmente, o maldito morcego chinês complicou o desenrolar dos nossos festejos. 
O que sempre me chamou atenção, em todas as paróquias, é o exército de voluntários que trabalham pelo sucesso destas festas que são, para muitas, o desafogo financeiro. Cada uma destas pessoas, ao chegarem ao céu, e quando São Pedro for consultar o prontuário do fulano, o santo padroeiro estará lá, alerta: “São Pedro, este aqui pode entrar. Eu sou responsável por ele”.
 

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