Nos dois últimos artigos tratei da temática das minorias, relatando a nova consciência coletiva em curso, que está alterando a nossa forma de ver o mundo e a necessidade de avançarmos na arte do respeito.
Esse raciocínio nos leva à máxima de que a minoria precisa ser respeitada e a vontade da maioria atendida. Por princípio, o direito da minoria não pode se sobrepor ao direito da maioria, sob pena de colocar em xeque o conceito de maioria e a bússola da democracia. Em hipótese alguma estou dizendo que deva haver a ditadura da maioria, mas também não podemos viver com o sentimento de uma “ditadura da minoria”. E esse é um ponto importante para nossa atenção, reflexão e debate.
O processo de construção identitário das minorias tem exigido que esses grupos sociais ocupem mais espaço, se exponham, motivem ações afirmativas e exijam seus direitos, em alguns casos de forma insultuosa.
Um exemplo da ampliação do protagonismo das minorias está no grupo dos homossexuais e bissexuais que, segundo o IBGE em pesquisa nacional realizada em 2019, representavam 1,8% da população brasileira e 4,8% dos jovens do país. Conforme se amplia o palco de atuação e reivindicação deste grupo em torno de leis específicas, cotas ou banheiro segundo a identidade de gênero, amplia-se o desconforto dos heterossexuais conservadores.
De certa forma, o desconforto é um processo normal, resultante das mudanças sociais. Entretanto, quando estudamos a radicalização da sociedade e a ampliação do extremismo, verifica-se que há uma “dor social” em andamento, que tem retroalimentado a sensação de que há uma “ditadura da minoria”. Essa percepção está associada à leitura de que há muita atenção do poder público, do poder judiciário e da mídia para estes grupos. É comum os entrevistados apregoarem que a “minoria está tomando conta”.
Nas pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião é comum os relatos de entrevistados que se sentem patrulhados, tolhidos pelas narrativas dos que defendem o direito das minorias. Temem que esteja em curso uma “ditadura das minorias” e que estas passem a determinar o comportamento da sociedade, a influenciar na educação da nova geração.
Mesmo que tenhamos a consciência de que há uma disputa geracional e ideológica por trás destes sentimentos e indignações é necessário reservarmos um espaço para análise empática.
Imagine pessoas que cresceram aprendendo que havia um certo, um padrão e de repente estão sendo ensinadas de que “cada um pode ter o seu padrão” e que “é normal ser diferente”. Essas pessoas vão olhar para este cenário com desconfiança e estranham quando os programas televisivos dão mais atenção às minorias, como se estas fossem maioria, ficando com a sensação de que o “mundo está perdido”.
Esse contexto fez com que a valorização e o resgate do conceito de família se tornassem um tema da política nacional, fazendo com que a política e a religião se aproximassem novamente, com a desculpa de que essa união poderá “salvar as famílias tradicionais”.
Para fugirmos das radicalidades e dos extremos, seja daqueles que apregoam uma política identitária mais incisiva e agressiva ou dos que resgatam o conceito de família tradicional como a salvação da espécie, é necessário a ampliação do diálogo e do respeito, sabendo que a paciência e a tolerância valem para os dois lados.