Já perdi a conta de quantas cobranças ensaiadas de faltas eu vi na vida. E também não tenho certeza de quantas delas eu vi se transformar em gol. Na proporção, acho que um gol a cada 50 faltas, embora eu esteja apenas fazendo uma suposição.

Não sou fã de cobrança ensaiada de falta muito provavelmente por causa das estatísticas, mas admito que me rendo e pulo para o outro lado quando vejo ela se transformar em gol. Não apenas pelo fator gol, mas por todo o contexto, pelo trabalho em equipe bem executado, os muitos e muitos treinamentos para chegar no jogo e ver a bola parando no fundo da rede.

Por sinal, anda raro ocorrer um gol assim, de falta bem ensaiada. Lembro do tempo do Ênio Andrade, que ensaiava com tanta maestria que a minha proporção do primeiro parágrafo mudaria para 4 gols em cada 10. No mínimo. Seu Ênio conhecia.

Dias atrás recebi um vídeo pelo WhatsApp com dez golaços de falta. Nenhum de jogada ensaiada. Tudo cobrança “raiz” e a maioria absoluta só de pancadas. Teve até aquela do Roberto Carlos em um amistoso contra a França. A bola parecia que ia parar na bandeirinha de escanteio, fez uma curva assustadora e, quando o Barthez viu, seus colegas já estavam passando o centro. Me admirou a rede não ter furado, tamanho canhão.

Um jogador que se destacou pelas faltas eximiamente bem cobradas foi o Neto. Naquela época, admito, cheguei a gostar um pouquinho do Corinthians por causa disso. Não mais que 1%, mas gostei. Deus é testemunha de o quanto treinei faltas tentando imitar o Neto. Como você deve imaginar, não deu muito certo, mas foi bom enquanto durou.

Saber cobrar falta é uma arte, um dom. Não é qualquer um que manja. Aliás, o pecado do vídeo que recebi foi não ter nenhuma cobrança do Zico. Talvez pelo fato de o vídeo mostrar mais canhões do que faltas colocadas. E faltas colocadas eram a especialidade do Zico, cobradas com sutileza, parecendo colocar com a mão, tornando aquele ato tão fácil a ponto de a gente achar que pudesse fazer igual.

Gol de falta deveria valer dois, o que não seria má ideia. Afinal, se existe cesta de três pontos no basquete, por que não valer dois gols uma cobrança de falta? Acho que o futebol seria mais justo com quem é diferenciado.