Preconceito não é opinião, é crime!
**Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, não traduzindo a opinião do jornal O Alto Uruguai
segunda, 20 de março de 2023

Há quem diga que o “mundo” está ficando cada vez mais chato, pois não se pode fazer piada com negros, homossexuais, mulheres, gordos, entre outros. A maioria das pessoas gostam de dar risadas quando ouvem uma piada engraçada, mas não querem se sentir como protagonistas ou como parte da piada. Não é à toa que o dito popular diz que: “quem bate esquece, quem apanha não esquece.”
Ao longo dos últimos anos tem se ampliado a consciência da sociedade sobre o bullying e o quanto essa prática faz mal, machuca emocionalmente as pessoas. O bullying está geralmente associado a gestos que intimidam ou agridem e que se mantêm ao longo do tempo. O agressor pode ser um “valentão”, que tem o prazer de humilhar outra pessoa ou apenas um “intolerante”, que não aceita aquilo que é diferente. 
O bullying ganhou nova roupagem nas redes sociais, quando o discurso do ódio se tornou uma estratégia de ataque permanente. O discurso do ódio consiste em uma prática de desqualificação e menosprezo constante, visando humilhar um grupo ou indivíduos deste grupo.
Se de um lado temos a ideia de que parte da sociedade está sendo oprimida, perdendo a sua liberdade de expressão e o direito de fazer uma piadinha, de outro lado temos ampliado o entendimento sobre a realidade em que vivemos e o quanto precisamos evoluir do ponto de vista cultural e empático para que as minorias sejam respeitadas. 
E essa mudança ou transformação social em curso não está assentada em nenhum ideário novo, mas na consciência sobre os nossos direitos, no empoderamento do cidadão. A Constituição de 1988 é a base dogmática deste debate, tendo em vista que em seu artigo 3º proclama que o principal objetivo da república é “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. E no seu artigo 5º afirma que “todos somos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
Ouvindo as pessoas em pesquisas de opinião e relatando a jornada de transformação social parece que estamos no caminho certo, caminhando para uma sociedade mais evoluída. Mas, infelizmente, ainda teremos “muitas pedras pelo caminho”, pois estamos apenas começando a reconhecer que há um artigo de lei para proteger as pessoas de crimes como o racismo, por exemplo.
    Como disse, quando se trata de combate ou minimização do preconceito, não teremos dias fáceis! Um dos dilemas reside no empoderamento do indivíduo que utiliza as redes sociais para fazer a defesa de suas crenças com a falsa ideia de que pode se esconder em uma postagem ou em um ataque virtual. 
O cerne da questão está na educação, na forma como nossos filhos são ensinados a lidar com o diferente. Quando pensamos em educação, temos que resgatar o sentido amplo do termo. O ato de educar está associado à transmissão de conhecimento, desenvolvimento de habilidades e à construção dos traços de caráter. Na prática, é pela educação que os hábitos, valores morais, costumes, crenças de uma comunidade são transferidos de uma geração para a outra. O desafio é levar os artigos da Constituição para a teoria e prática de todas as nossas instituições, começando pela família e pela escola.
 

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