Se você está lendo este texto é porque possui uma fossa séptica em casa ou se interessa pelo assunto de tratamento de esgoto. A fossa séptica é uma unidade de tratamento muito comum na nossa região e no país todo. Isso se deve ao baixo custo e à grande simplicidade operacional comparada à outras tecnologias de tratamento de esgotos. No entanto, apesar de simples, a fossa séptica exige alguns cuidados, extremamente necessários para seu bom funcionamento e consequentemente para o meio ambiente, para a saúde da população e para o seu bolso. Mas antes de falarmos sobre os cuidados e os benefícios de ter uma fossa séptica adequadamente projetada e operada, precisamos entender como ocorre o tratamento.
Como ocorre o tratamento em uma fossa séptica?
As fossas sépticas, também conhecidas como tanques sépticos, são tanques enterrados, construídos no local (concreto e alvenaria) ou pré-fabricados (polietileno ou fibra de vidro), utilizados para tratamento de esgoto em locais onde não há rede de coleta de esgoto, seja na zona rural ou urbana, podendo ser empregados em residências, edifícios, loteamentos, pousadas, etc.
Dentro de uma fossa séptica, o tratamento do esgoto acontece naturalmente por mecanismos físicos e por ação de micro-organismos presentes nos esgotos. Os mecanismos físicos envolvem a sedimentação e flotação dos sólidos presentes nos esgotos. Alguns desses sólidos, mais pesados que o líquido, são direcionados ao fundo (sedimentam) e outros (gorduras), mais leves que o líquido, se acumulam na camada de cima (flotam). Na figura abaixo está apresentado um esquema de uma fossa séptica. Os micro-organismos responsáveis pelo tratamento são principalmente as bactérias e as arqueas. Estes organismos utilizam os sólidos presentes nos esgotos como fonte de alimento e energia e os transformam a formas mais simples, como por exemplo, o gás carbônico e o metano, que são emitidos para a atmosfera. Ao longo do tempo, a quantidade de micro-organismos presentes na fossa aumenta, ao mesmo tempo em que também aumenta a quantidade de sólidos no fundo e na superfície do tanque. A isso damos o nome de lodo.
Fonte: FUNASA (https://repositorio.funasa.gov.br/handle/123456789/541).
Como construir e operar uma fossa séptica?
A fossa séptica é parte do sistema predial de esgoto. O profissional mais indicado para realizar o projeto desse sistema é o Engenheiro Ambiental e Sanitarista, incluindo as tubulações de saída dos aparelhos sanitários, o tratamento do esgoto e sua disposição final.
Uma dúvida bastante comum é se o esgoto da cozinha e da lavanderia pode ser encaminhado para a fossa séptica, juntamente com o esgoto do banheiro. A resposta é sim! Não é necessário construir um sumidouro especificamente para receber o esgoto da cozinha e da lavanderia. O sumidouro, nesse caso, além de pouco efetivo no tratamento, acaba sendo um custo extra e desnecessário.
A construção ou instalação da fossa séptica é bastante simples, mas deve ser feita por profissionais capacitados, de acordo com o projeto elaborado. Ao contrário do que muitos pensam, a fossa não é apenas um tanque qualquer que recebe esgotos. É um tanque com anteparos, volume e dimensões adequadas, conforme o tipo e características da edificação, número de moradores e o clima local. Todas as dimensões calculadas e definidas pelo Engenheiro projetista devem ser respeitadas durante a construção/instalação para que o tratamento do esgoto seja efetivo.
Se você já possui fossa séptica em casa, lembre-se que é importante evitar o uso exagerado de produtos de limpeza (água sanitária, desinfetantes, etc.). Esses produtos podem ser prejudiciais aos micro-organismos e consequentemente, reduzir a eficiência de tratamento. Outro ponto fundamental é realizar a limpeza periódica.
Por que é necessário limpar a fossa séptica?
Como relatado acima, o lodo gerado durante o tratamento acumula-se no fundo e na superfície da fossa. Esse lodo deve ser periodicamente removido para manter a eficiência do tratamento e para evitar o transbordamento para o ambiente e/ou o entupimento das unidades posteriores, como o sumidouro. Portanto, se o lodo não for removido, além do mau cheiro e de trazer problemas para o meio ambiente, com a contaminação da água e do solo, pode acarretar doenças na população e ter impacto econômico, pela provável necessidade de manutenção do sistema de esgoto obstruído pelos sólidos provenientes da fossa.
Portanto, a limpeza regular é fundamental para garantir que a fossa funcione adequadamente. A periodicidade de limpeza vai depender do tamanho da fossa, da quantidade de esgoto e lodo produzido pelos moradores, do clima local e da eficiência do sistema. Em geral, a fossa deve ser limpa a cada 1 ou 2 anos, mas é necessária uma avaliação técnica para indicar a periodicidade ideal em cada caso.
Como a limpeza deve ser feita?
A limpeza necessita de serviço especializado, realizado por profissionais capacitados e experientes. Consiste na retirada do conteúdo da fossa (lodo e esgoto) por meio de bombeamento para um caminhão-tanque. Nem todo lodo deve ser removido. É recomendado deixar uma quantidade mínima de 10% do volume da fossa, pois o lodo contém micro-organismos para a continuidade do tratamento. Portanto, não é necessário e nem recomendado lavar a fossa após a remoção do lodo. Essa ação pode comprometer gravemente o processo de tratamento. O caminhão-tanque transportará o lodo para tratamento e disposição final ambientalmente adequada. Esta pode ser o aterro sanitário ou até mesmo a reutilização na agricultura. Sim, porque o lodo de esgoto, após tratado, pode se transformar em um excelente fertilizante.
E o esgoto que sai da fossa, para onde deve ir?
Após a fossa séptica, dependo das exigências legais e das condições locais, o esgoto pode seguir: para infiltração no solo, por meio de um sumidouro (mais comum) ou vala de infiltração; para um sistema público de esgoto (quando existente); ou necessitar de um tratamento complementar para sua posterior infiltração no solo, ou ainda, para que seja possível seu lançamento em cursos d´água ou na rede de drenagem.
As fossas têm uma desvantagem no que se refere à eficiência de tratamento. Como mencionado acima, são eficientes para remover os sólidos presentes nos esgotos, porém, com relação a outros constituintes, como matéria orgânica, nutrientes e micro-organismos patogênicos, sua eficiência é baixa. Por isso, necessitam ser acompanhadas por unidades de tratamento complementar. Essas unidades podem ser os filtros anaeróbios, os filtros de areia e até mesmo os jardins filtrantes (assunto abordado em outro artigo: https://www.oaltouruguai.com.br/materia/574/jardins-filtrantes-para-o-tratamento-de-esgoto). Em função do custo e simplicidade operacional, os filtros anaeróbicos são o tipo de tratamento complementar mais empregado. Você deve conhecer...São aqueles tanques contendo brita ou material plástico colocados após as fossas e antes dos sumidouros.
A figura a seguir apresenta as principais possibilidades de tratamento complementar e disposição final. Se o solo não permitir infiltração do esgoto tratado por meio de sumidouro ou vala de infiltração, o esgoto pode ser encaminhado para o sistema público (se existente) ou para um curso d´água.
Fonte: Adaptado de NBR 7229/1993.
E aí, que tal verificar como está o tratamento de esgoto aí na sua casa? Vamos evitar inconvenientes financeiros decorrentes do mau funcionamento das fossas e contribuir com o meio ambiente e a saúde pública!
*Texto da professora-doutora Samara Terezinha Decezaro, com colaboração do professor-doutor Raphael Corrêa Medeiros