Há cinco anos, eu escrevia essa coluna, agora, propícia de ser republicada em tempos de distanciamento social e carência de abraços.
Abraço, beijo ou aperto de mão? Na verdade, todos são bem-vindos, o que varia é o momento e o tipo de mensagem que queremos passar, assim como o grau de intimidade que possamos ter com alguém. E isso também vale para as despedidas em mensagens virtuais ou ao telefone. O aperto de mão – mais costumeiro em cumprimentos profissionais – exprime nosso interesse se for feito com firmeza, ou descaso se for lânguido demais. É o famoso Att. (attention), que usamos para nos despedir em mensagens formais. O abraço, é o caminho do meio, aquele afeto sem ser invasivo, uma espécie de irmandade que estabelecemos com nosso interlocutor e que pode ter vários significados de acordo com a conjuntura. Já o beijo – tido como o mais íntimo dos três – agora virou commodity, uma vez que saímos distribuindo beijos a granel a deus dará. Pois, se antes costumávamos destiná-lo aos nossos afetos mais caros, agora o beijo vai para a moça do call center que nos liga tentando oferecer um produto, para quem nos serve um chope no bar, e por aí vai. O argumento de defesa costuma ser a força do hábito, o mesmo usado para justificar pérolas como “meu coração”... Então tá! Contudo, à mercê da relação ser formal ou informal, a força de um abraço costuma ser páreo duro em relação aos beijos, esses que migram rapidamente de apaixonados para mornos “selinhos”. O abraço acolhe e costuma ser mais duradouro, quando não eterno por seu poder curativo e confortante. O abraço é democrático, sem preconceitos, laico e cativa crianças, idosos e pessoas apaixonadas. Um verdadeiro abraço nos faz esquecer do tempo, se chove ou faz sol lá fora. É sentir o coração do outro bater, o sincronizar de respirações e abdicar do verbo, pois abraços falam por si. Um abraço cura traumas e solidões e pode ser o começo de uma história de amor. Enquanto os beijos podem ser fugazes, abraços podem ser inesquecíveis como o declarado por Roberto Carlos “Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços o que eu nunca esqueci...”. A importância do abraço é tamanha, que mereceu data no calendário, comemorado no dia 22 de maio, a partir da iniciativa de Juan Mann, australiano que criou a Campanha dos Abraços Grátis (Free Hugs Campaign). Carpinejar diz que o abraço é confissão, no que concordo, pois o abraço não nos permite engodos já que “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve”, segundo a Martha Medeiros, expertise de almas. Fico pensando não nos abraços que dei, mas nos que deixei de dar e que não tenho como recuperar. Então, “Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la. Que o abraço abrace. Que o perdão perdoe. Que tudo vire verbo e verbe. Verde. Como a esperança. Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo” (Artur da Távola).
Bons Ventos! Namastê.