Não sei como deve ser o céu, até por que somente saberei quando estiver lá. Sim, porque eu vou para o céu. Ao menos espero que eu esteja fazendo as coisas de acordo para poder garantir meu lugarzinho lá.
Acho que, depois que eu passar pelo purgatório, haverá um gramado bonito, bem aparado. E possivelmente o responsável por esse gramado seja o Seu Juca, que tanto cuidava da praça, lá em Rodeio Bonito. Era uma grama tão bem cuidada que a gente jogava bola de tardinha, depois que ele ia para casa, porque não podia pisar nela. A gente traía o Seu Juca.
No céu não deve ter futebol. A gente vai encontrar grandes lendas desse esporte e eles estarão lá, sentados em um banco qualquer, numa sombra, contando muitos causos da bola, lembrando de cada drible, de cada bola na rede, de cada abraço após um gol. Porém, nada além disso. Não haverá futebol, apenas boas histórias para contar. Porque a gente já se estressa com futebol por aqui. E lá é lugar de paz.
Já pensou sobre um bate-papo entre Garrincha e Maradona? O argentino dizendo que foi o melhor da história e o brasileiro retrucando, falando que talvez ele tenha sido no máximo o melhor argentino, e olhe lá. Maradona diria que Garrincha jamais fez gol de mão, mas o Garrincha, na réplica, comentaria que possui duas Copas, uma a mais que o castelhano. E no final eles iriam rir, cada um com sua razão, cada um achando o outro maluco.
Também fico imaginando quando se encontram jogadores que foram rivais na terra. Eles devem comentar sobre o quanto foram tolos em fazer tudo o que fizeram aqui naqueles dias de jogos pesados, usando mais a emoção do que a razão. É lógico que Deus os perdoará, pois o Pai é sabedor que cada um defendia o seu ganha-pão, as cores de seu povo, o seu currículo.
Lá em cima também não deve existir TV por assinatura. Já vemos tanta aberração na TV aqui e não há necessidade de se estressar lá. A parte boa é que, não havendo TV por assinatura no Paraíso, também não teremos o transtorno de queda de sinal em dias de chuva, outra coisa que incomoda a gente aqui embaixo. Aliás, será que no céu existe chuva?
Seria perfeitamente tolerável os boleiros pedirem uma bola para Deus com o intuito de, eventualmente, darem uma brincada. Nem que fosse numa calçada bonita, nem que fosse para poucos minutos, apenas para perder algumas calorias. Por que na calçada e não naquele gramado perfeito? É simples. Você acha que o Seu Juca iria autorizar?