Esgoto sanitário: por que não basta apenas coletar?
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quinta, 29 de setembro de 2022

O esgoto sanitário, como já relatado em um texto anterior, é basicamente água (98%) e inúmeras impurezas que vão se concentrando de acordo com os usos que fazemos da água nas nossas residências. Assim, o seu aspecto visual (cinza escuro, turvo, com materiais flutuantes, etc.) e odor, muitas vezes relacionado a ambiente anaeróbio (ausente de oxigênio), são bastante característicos.
Por isso, ninguém gostaria de ter de “pular esgoto” na frente de casa, aguentar o odor (ovo podre ou de amônia) e inúmeros insetos, como baratas, mosquitos, moscas, aos montes, principalmente, em dias de calor. Mas infelizmente, esse ainda é o cenário encontrado por boa parte da população do país. Assim, fica claro que a coleta e afastamento do esgoto ajudam, e muito, a manter o ambiente saudável; porém, não basta apenas coletar, é necessário tratar o esgoto coletado. O tratamento de esgoto adentra em outros porquês, de âmbito: ambiental, econômico, saúde pública e social.
Dentro da questão ambiental, o material orgânico de fácil degradação pode ser rapidamente utilizado por microrganismos aeróbios, os quais irão retirar o oxigênio presente no meio líquido. Dessa forma, um rio, no qual o esgoto sem tratamento é lançado, por exemplo, terá impactos significativos com perda de diversidade de espécies devido à diminuição de oxigênio. Outro ponto é a floração de algas, em razão das grandes quantidades de nitrogênio e fósforo já presentes no esgoto, caracterizando um fenômeno chamado eutrofização (água fica verde), com perda de qualidade da água.
E a parte econômica? Vamos lá, primeiramente, se a água do mesmo rio for utilizada para abastecimento público de água, a perda de qualidade acarreta maiores custos no tratamento. Duas casas iguais, qual delas possui “maior valor”? A que o esgoto está coletado e tratado ou naquela em que ele passa a céu aberto? E em lugares turísticos, quem voltaria a uma praia ou um rio onde há lançamento de esgoto não tratado?
No que se refere à saúde pública, o contato com esgoto traz riscos à saúde, devido a inúmeras doenças que atingem, principalmente, grupos mais vulneráveis como: crianças até cinco anos, idosos, pessoas imunocomprometidas. Seja pela ingestão de água contaminada, alimentos contaminados ou por contato, pessoas doentes precisarão utilizar o sistema de saúde, e, obviamente, há custos. Indiretamente, faltas ao trabalho, por estar doente, também possui viés econômico. 
Por fim, a parte social pode ser resumida pelo direito humano à água e ao saneamento adequado, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O tratamento de esgoto diminui inúmeros custos diretos e indiretos e ajuda a manter o ambiente saudável, e, principalmente, promove qualidade de vida.

**Texto do professor Raphael Corrêa Medeiros, com colaboração das professoras Samara Terezinha Decezaro e Juliana Scapin, do Departamento de Engenharia e Tecnologia Ambiental, da UFSM-FW

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