Nenhum povo contribuiu tanto para compreensão da política como os gregos da antiguidade, na medida em que deixaram um legado de lendas e mitos como forma de explicar fatos políticos, econômicos e sociais. Conta a mitologia que Zeus ordenou a Hermes que distribuísse indistintamente aos homens: pudor e justiça, pois seu temor era de que os homens fossem exterminados, uma vez que a inteligência havia sido roubada pela deusa Atena. Assim, preconizou a justiça para que se fizessem as leis e o pudor para que as leis fossem respeitadas sendo que aquele que não tivesse tais adjetivos, deveria ser eliminado da sociedade por ser um flagelo para ela. Sorte ou azar tais preceitos serem parte do passado grego? Só sei que se estivessem vigentes, boa parte da humanidade seria exterminada, pois definitivamente: justiça e pudor não estão fazendo parte da nossa cartilha. Aqui não cabe argumentar aos que advogam a favor do anarquismo (uma sociedade independente e antagônica ao poder do Estado) mas, refletir sobre o que queremos ou não queremos como cidadãos, lembrando que nós elegemos aqueles que legislam as leis. Logo, se percebemos distorções, a ideia é fazer valer nosso poder político através do voto, em busca da “dike” (conceito de justiça para Aristóteles). Reclamamos – e ainda bem que o fizemos – e somos corresponsáveis se nos omitirmos politicamente ou se escolhermos equivocadamente nas eleições, já que votar prescinde reflexão anterior e não uma decisão frívola na urna. O sentimento coletivo de descrédito faz muitos concordarem com Ronald Reagan ao se referir a política: “Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje, vejo que ela se parece muito com a primeira”, contudo, a força das urnas pode fazer a diferença e ensejar esperança por dias melhores. Voltando aos gregos em busca de luz, autores como o italiano Mauro Bonazzi, promete explicações para vida contemporânea em sua obra “Com os olhos dos gregos. A sabedoria antiga para os tempos modernos”, onde o leitor é levado em uma longa caminhada, em que os filósofos gregos conversam com seguidores modernos ou mesmo personagens da cultura popular. Bonazzi mostra que muitas das perguntas de hoje já foram abordadas por pensadores antigos e, que por trás de cada evento encontra-se uma questão filosófica como possível explicação. Ainda, o autor alerta para tendência de colocar em autores clássicos, justificativa para ideias que trouxeram consequências perigosas e imprevisíveis para o mundo. Conclui, incitando a continuarmos a reflexão com os tantos acontecimentos que nos cercam, estando por satisfeito, se nos moveu a começar a pensar. Platão havia imaginado uma república perfeita, onde o governo deveria ficar na mão dos filósofos. Oxalá nossos políticos comunguem um pouco de filosofia...
Bons Ventos! Namastê.