Pensar na velhice é coisa que nos acomete vez que outra, recebendo um repúdio quase que imediato, como se a temática fosse algo ruim e danoso. O discurso evocado pela sociedade ao longo do tempo ajuda a edificar o imaginário social de que ser velho é algo associado a ser ranzinza, implicante sendo poucas as falas idealizando o idoso como sábio e generoso. Fazendo um contraponto entre o modo de perceber a velhice nas culturas ocidental e oriental é possível asseverar que na oriental os idosos são tratados com respeito e sua experiência, valorizada como um bem precioso. Em países como o Japão e a China, os jovens demonstram constantemente gratidão pelo sacrifício que porventura seus antecessores fizeram em nome da família, sendo sempre uma festa a presença de um idoso no seio familiar. Sobre a morte, entendem como parte de um ciclo evolutivo da vida e ficam felizes quando alguém faz a passagem e ascende a essa nova fase. Já na cultura ocidental, misturamos o processo de envelhecer com a morte, vista como um evento trágico. Daí talvez, as crises de idade e o medo da decrepitude inevitável a todos nós. Morin, respeitável filósofo, comentava que assim como rejeitamos a morte com todas as nossas forças, acabamos por associar a velhice como algo indesejado já que é a fase da vida que mais se aproxima desse evento. Claro que lidar com o processo de envelhecimento nosso e dos outros não é tarefa fácil e há de se ter muito desprendimento e evolução espiritual para lidar com a morte de maneira suave e descomplicada. Afinal, são as dores que surgem em lugar em que antes nunca doía, é a falta de memória ou a repetição de coisas que deixam nossos interlocutores impacientes e a própria imagem que vai se moldando em um novo formato. Mesmo assim, envelhecer não é ruim! O corpo, perene que é, vai dando sinais de falência aqui e acolá, contudo, não comprometendo a essência divina que o habita e é atemporal. Sabe aquele ancião, que por vezes encontramos nas esquinas da vida, brincalhão, vivaz e com um olhar tenaz que não nos deixa dúvida de que sabe viver? Apesar das marcas da idade, temos a certeza de estar diante de um sujeito que tem gana em viver e exemplos não faltam como os octogenários Erasmo Carlos, Nana Caymmi, Ney Matogrosso, Roberto Carlos, Milton Nascimento e Caetano Veloso, que esbanjam vitalidade e se mantém produtivos. E o que dizer da diva do cinema e do teatro, Fernanda Montenegro, no alto dos seus 92 anos de pura energia vital? Guimarães Rosa já discutia sobre a velhice em 1956, em sua obra Grande Sertão: Veredas, “(...) toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa, seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, princípio, meio e fim.”
Bons Ventos! Namastê.