Crônica do porta-cartões
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segunda, 21 de junho de 2021

Dia desses, fui encomendar meus cartões de visita – que, em respeito ao meio ambiente foi feito em papel reciclado – e aproveitei para procurar um porta-cartões de bolsa. Tamanho foi o meu espanto quando descobri que o tal objeto havia se tornado um item obsoleto, daqueles que os vendedores fazem uma cara indignada e confusa, na tentativa de entender que objeto é esse. Juro...! Não sabia que o porta-cartões havia se aposentado, já que seguidamente recebo ou troco cartões. Será que a evolução das tecnologias digitais, acentuada pelo trabalho home office, decretou a falência desse importante objeto da cultura organizacional? Teriam os cartões ficado ultrapassados e fora de moda? A influência das conexões por meio das redes sociais, associadas aos smartphones, estariam suprindo a função secular do cartão de visitas? Naquele dia me senti em Marte, na contramão da sociedade – e porque não dizer velha, assim como os cartões. Automaticamente, ainda em solilóquios e sorvendo um café, pensei: “vou ter que mudar o material sobre cartões e a etiqueta em sua troca das aulas de cerimonial e protocolo”, e junto com tudo isso se esvai o ritual e o glamour entronizado há tantos anos, tanto na cultura organizacional quanto na vida em sociedade. Os cartões sempre fizeram parte do chamado “material de expediente”, sendo uma espécie de autoapresentação e uma ferramenta de marketing especializada no estilo face a face, que acompanhava um automático aperto de mão, agora impossível de ser feito. Os cartões sempre ajudaram a traduzir a imagem do seu dono e sua empresa, concedendo credibilidade e legitimidade, tendo um ritual em sua troca, como entregar o cartão de forma que o interlocutor possa de imediato ao segurá-lo, fazer a leitura dos dados; ao receber um cartão, não dobrá-lo ou colocá-lo no bolso, daí a função do porta-cartões, que armazena os cartões a serem entregues e os que são recebidos. Enfim, há algo de errado no reino, já que bolsas de grife e de liquidação ainda possuem em seu compartimento um espaço para portar os cartões. Talvez tenha sido expurgado das lojas de presentes – local que ladeava junto com o porta-canetas e clips, por falta de procura, talvez... O que dizer? Que confiar apenas nos meios digitais é um grande erro, embora seja possível produzir cartões digitais em plataformas que permitem ao usuário confeccionar o seu próprio cartão. Quem sabe, aliar o impresso ao digital e aplicar um QR Code em seu cartão, se houver necessidade? Bom, quem guarda tem. Resto com o meu porta-cartões, em aço escovado e com direito a um espelho para retocar a make e outro de mesa, com a logo do local que trabalho. Sinto-me detendo peças de uma colecionadora de antiquário e com todas as boas lembranças que me evocam, a troca de cartões.
Bons Ventos! Namastê.

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