Antes da pandemia era comum que o consumidor primeiro desejasse um produto e depois pesquisasse o mesmo na internet.
A pandemia inverteu essa prática. Hoje o consumidor navega na internet ou nas redes sociais e seus desejos são instigados ou motivados pela publicidade segmentada, que mostra com a exatidão dos algoritmos, produtos associados às suas preferências ou apresentados por influenciadores digitais que o mesmo segue.
Antes, o desejo por um produto nascia de uma necessidade específica, de um sonho a longo prazo ou por influência do meio, em especial, instigada pela rede de relacionamento.
Na rede de relacionamento, o desejo por um produto era ativado pelos relatos de uma experiência positiva, por um depoimento de um cliente promotor ou até mesmo pela inveja boa, a partir da observação de satisfação de outra pessoa.
Ao longo dos últimos anos as pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião sistematizaram diferentes origens motivacionais para a ativação do desejo de um novo produto.
Por exemplo, a vontade de comprar uma nova marca de manteiga podia nascer de um café da tarde saboroso oferecido por uma tia, fazendo com que esse potencial consumidor fosse pesquisar na internet os pontos de venda da manteiga desejada. A disposição em ter uma caixa de som por bluetooth da marca JBL foi muito estimulada pela prática involuntária de escutar o som na casa do amigo ou do vizinho, seja ele de porta ou de beira de praia.
Quando o tema era carro, a influência do meio na ativação da vontade de compra sempre era maior do que a necessidade efetiva do consumidor. Na rede de relacionamento, a troca do veículo sempre conferiu ao consumidor status e modernidade.
A combinação do isolamento social da pandemia com a ampliação do tempo das pessoas na internet criou uma nova jornada de estímulo ao desejo, um canal diferente para criar a vontade em adquirir um novo produto, de experimentar uma nova sensação ou ter um novo prazer.
De um lado estava o consumidor, vivendo um novo normal, com mais tempo e mais atenção ao ambiente digital. De outro as empresas, tendo que ampliar a exposição e a comunicação de seus produtos nesse mesmo ambiente.
A conjunção desses fatores criou um novo gatilho comportamental. Esse gatilho foi gerando uma nova rotina e essa rotina trouxe um novo hábito. Hoje, a referência do consumidor com maior poder de consumo é a internet. É no ambiente digital que o consumidor ativa seus desejos, enxerga novas possibilidades de produtos ou percebe que necessita de um novo produto.
O ambiente digital da internet é uma nova vitrine e influencia a escolha de novos produtos entre os mais variados perfis de personas. Lá estão os consumidores que fazem uma escolha racional, compram maximizando ganhos. Também estão os que compram por impulso, colocando no “carrinho de compras” tudo o que parece ser interessante e até aqueles que tomam a decisão a partir de critérios de responsabilidade social e sustentabilidade.