Esgoto: algo apenas nojento ou fonte de riquezas?
**Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, não traduzindo a opinião do jornal O Alto Uruguai
sexta, 20 de maio de 2022

Uma das fontes de riqueza e sobrevivência de inúmeras civilizações, antigas e atuais, está no uso desta água residuária. Para elas, o esgoto sanitário faz uma linha simples entre: ter alimento e não se ter alimento.
Quando se ouve a palavra “esgoto”, a primeira reação, quase sempre, não é boa. Vem à lembrança, algo mal cheiroso, de aspecto desagradável e que queremos bem longe de nós, não é mesmo? Por isso, aos poucos, trocamos o nome do sujeito para: efluente ou água residuária. O esgoto sanitário, nada mais é que toda a água utilizada no ambiente doméstico. De uma forma simplificada, é água com impurezas, as quais dependem do uso que fazemos dessa água. Exemplo: na lavanderia, há os resíduos de sabão, amaciante, corantes; na pia da cozinha, há restos de alimentos, sabão, gorduras, e assim por diante. Está certo! E o banheiro? Sim, ali, a água ajuda a transportar as fezes e a urina, sendo uma das razões para o tratamento de esgoto.
Mas, riquezas? Onde estariam? A primeira e maior delas, em porcentagem, é a água, pois compõe mais que 98% do esgoto sanitário. Há alguns dias, a região estava em uma época bem seca, não é mesmo? Sabendo que, em uma média geral, cada pessoa produz 100 litros de esgoto sanitário, diariamente, multiplique pelo número de habitantes da sua cidade: é muita “água”! O restante, 2%, são das impurezas, que precisam passar por tratamento para diminuir o potencial poluidor e, depois de tratadas, se tornarem fonte de nutrientes, como: nitrogênio, fósforo (Isso mesmo! Os mesmos utilizados nas lavouras), material orgânico, entre outros. Assim, muitos países, como Israel, Grécia, Espanha, Estados Unidos, México, Índia, China, já usam há bastante tempo o esgoto tratado na “fertirrigação” de inúmeras culturas. Mas e o Brasil? Pode-se dizer que esta é uma aplicação recente e uma oportunidade ainda pouco explorada, mas com grande potencial de valorização nos próximos anos, devido à crescente escassez de recursos naturais (água e nutrientes) e econômicos. 

Professor-doutor Raphael Corrêa Medeiros

Universidade Federal de Santa Maria - Campus Frederico Westphalen

Colaboraram também para a elaboração desse texto as professoras  Samara Terezinha Decezaro e Juliana Scapin.

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