Uma situação que viemos percebendo, e de diferentes formas, é a falta de gente para trabalhar, e nas mais diversas funções. Acredito que esta é uma das barreiras mais importantes para o desenvolvimento das economias locais, visto que o dinheiro que poderia circular em maior volume entre mais pessoas, com a remuneração pelo trabalho, mais produção, mais produtos no mercado, menos máquinas paradas, fica inativo. Desde atividades autônomas ou não, como pequenas reformas e manutenção de casas e empresas, passando por atividades em indústrias de alimentos, prestação de serviços, restaurantes, indústrias moveleira, eletro e metalomecânica, vendas, culminando nas áreas de tecnologias da informação e engenharias, a falta de profissionais se acumula a cada semana. Empresas investem em outdoors, placas, faixas, anúncios de vagas pela internet, jornais, rádio, moto e carro de som, em um número cada vez maior de municípios. Empresas menores organizadas em associações e empresas maiores por suas próprias articulações partem para contatos fora do país, oferecendo vagas de trabalho para argentinos, venezuelanos, haitianos e senegaleses, que já se encontram atuando em muitos setores produtivos brasileiros, porém, ainda em número insuficiente.
A percepção se confirma e se amplia ao ver as estatísticas de anúncios de vagas abertas e não preenchidas em anúncios de órgãos como Sine (Serviço Nacional do Emprego), FGTAS (Fundação Gaúcha do Trabalho e Assistência Social), serviços de intermediação de empregos e estágios de entidades empresariais, das ACIs, de instituições de ensino como as faculdades, bem como nas agências de recrutamento e seleção. Uma pequena amostra destes números foi vista na semana passada no painel Cenários e Tendências da Economia, promovido pelo curso de Ciências Econômicas da FAHOR (Faculdade Horizontina), com diversos painelistas convidados.
As manchetes sobre o alto índice de desemprego em nível nacional intrigam ainda mais ao nos depararmos com o enorme número de vagas não preenchidas que se acumula em grande parte dos setores, principalmente na indústria e na prestação de serviços. Os índices de desemprego são medidos por órgãos também oficiais, e nunca duvidei deles. Ao meu ver, a forma como as manchetes vêm sendo apresentadas é que atrapalham, pois o desemprego é tão ruim quanto à falta de gente para trabalhar, pois representam duas grandes barreiras para o desenvolvimento e a economia nacional.
O Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, indica que o setor industrial brasileiro precisa qualificar até 10 milhões de trabalhadores nos próximos três anos, para dar conta da demanda contratada e prevista. Com a estimativa do IBGE de 11 milhões de brasileiros desempregados, penso que a importação de trabalhadores de outros países não pode ser a única solução para atender a indústria nacional.
Há um claro e evidente desencontro, aumentando a cada mês, entre quem quer trabalho e quem oferece as vagas, e penso que esta deveria ser a grande manchete, de quem quer soluções para a economia do país. Quem pode auxiliar? Todos podem fazer mais para reduzir este abismo entre o desemprego e as vagas de trabalho não ocupadas. Começo com as famílias que podem incentivar mais os seus, para evitar a evasão e buscar qualificação profissional, trabalho digno e saudável. Tanto os órgãos de fomento ao emprego, quanto quem está em busca de trabalho também podem fazer muito mais para melhorar a informação entre as vagas e quem busca trabalho. As escolas, as secretarias municipais e estaduais de educação podem fazer mais pela redução da evasão escolar, em números absurdos para os nossos tempos, e com a aproximação das práticas educativas com o mundo do trabalho. Os poderes públicos Executivo e Legislativo das esferas municipais, estaduais e nacional podem fazer mais gerando incentivos e ajudando a patrocinar a qualificação profissional, vinculada a geração de emprego e renda. As empresas também podem fazer muito mais, individualmente ou em associações, contribuindo com o financiamento da formação e da qualificação profissional direcionada as vagas que tem aberto e não preenchidas.
Enfim, um dos principais caminhos para alavancar a economia nacional passa por reduzir o abismo entre o volume de desempregados e o volume de vagas abertas e não preenchidas. E todos podem fazer muito mais do que vem fazendo, para resolver o problema.
Um abraço, e até a próxima!