...e viveram felizes para sempre!
**Os textos de colunistas aqui publicados são de sua total responsabilidade e não refletem a opinião do jornal O Alto Uruguai.
segunda, 14 de junho de 2021

Evocado pelo Dia dos Namorados, o Déjà vu dos Contos de Fadas emerge como uma historieta adaptada de nossas vidas, mas nem sempre com um final venturoso jurado nos romances. O final feliz narrado nas histórias infantis foi importado da literatura europeia que fartamente distribuía promessas de felicidade em suas fábulas. No Brasil, a produção de livros só teve o seu início a partir de 1920, pois antes disso eram impressos na Europa, prevalecendo as traduções de autores estrangeiros. Como forma de popularizar as obras que eram consumidas somente pela elite da época, o livreiro Pedro Quaresma inicia a produção de coletâneas em formato reduzido e com preço acessível, ganhando seguidores nessa tipologia de livros. Foi nesse cenário que se difundiram as historinhas, através da inciativa de Alberto Pimentel ao importar de Portugal obras como “Dona Carochinha”. Contudo, as fábulas e Contos de Fadas já faziam parte do universo infantil brasileiro na tradição oral de pais e avós que embalavam seus pequenos, com narrativas que iniciavam por “Era uma vez” e findavam com uma “moral da história”. Enquanto a moral da história permitia alguns devaneios por não ser conclusiva, encerrar uma história com a frase “...e foram felizes para sempre”, prometia felicidade.  Certamente, muitos de nós acreditamos nesse ditame e sonhamos acordados, sendo príncipes ou princesas, apaixonados para todo o sempre ou recebendo as honrarias como bravos heróis por termos liquidado o vilão. Os culpados dessa caraminhola foram alguns dos principais fabulistas que a história já teve como o grego Esopo e o romano Fedro, o poeta francês La Fontaine e Monteiro Lobato representando a brasilidade no gênero. Enfim crescemos, e a vida se apresenta desnuda de ficção, exigindo ação frente ao todo que nos envolve. Os dragões são substituídos por humanos despudorados e vis e a realeza, possui bem menos glamour e elegância daquela apontada nos contos. O amor, decantado como sublime, se desfaz em cada esquina a mercê das emoções baratas que os tempos modernos promovem. Que mundo onírico viviam aqueles senhores que inventaram tais contos? Talvez, a genialidade tenha sido anestesiar os pueris como forma de esperançá-los perante o futuro – salvo exceções que conseguem ter a vida como réplica de um conto de fadas -, e assim, fazer da assertividade um convite para iniciar a vida adulta. Igual as tramas centrais dos contos, na vida real o que mais nos move ainda é a relação a dois, pois dela emergem a teia de outras conexões, sejam na geração de filhos ou como pauta principal na conversa entre amigos. Se percebe que os vilões modernos no desfazimento de relações afetivas somos nós mesmos, grifando como jamais, os terceiros. Não é a (o) amante que destrói um lar, são nossas escolhas. O contrato de aparências edifica castelos que nunca existiram, forjado em trocas efêmeras por coisas mundanas e prazerosas como sexo, viagens, festas ou curtição em geral. Tudo válido..., mas quando existe amor! Em tempo, se é para ficar junto que seja por inteiro, longe do que alude a música do Nego do Borel, com “um pedacim pra cada esquema”. Também, que possamos fazer nossos expurgos a fim de, talvez, reescrever o final da história podendo ser “...e viveu feliz para sempre” na solitude que resulta no equilíbrio entre estar bem consigo e estar com o outro. 

Bons Ventos! Namastê.

Fonte: