A Liturgia da Palavra deste Domingo nos mostra a realidade da luta entre o bem e o mal, o tema bíblico dos dois caminhos, da escolha que todos somos chamados a fazer, neste mundo.
É importante salientar que pela sua condição de criatura de Deus, antes do pecado original, o ser humano vivia em harmonia com o Criador e a criação, integrado e feliz.
Contudo, uma força exterior agiu no homem, ativando as possibilidades do mal que estavam presentes nele. Uma “força” misteriosa, mas real, o tenta, e o convence de desobedecer o Criador. Esta força é exercida pelo chamado “tentador”, satanás, o inimigo de Deus, que desperta no homem a possibilidade de desobedecer a Deus usando mal a sua liberdade.
A Sagrada Escritura nos apresenta esta criatura de nome “satanás” (o adversário), também conhecido como “diabo” (diábolus: o caluniador). Um ser pessoal, invisível, que age por meio de outros seres (no caso do texto bíblico, age através da serpente) ou através da tentação interna na consciência do ser humano.
Contudo, este ser não é onipotente, ou seja, não tem poder total e completo sobre o homem. Mais ainda, com a vinda e a obra redentora de Cristo, o poder do demônio foi destruído. Seu reino se desfez e foi substituído pelo Reino de Deus. Ou seja, o demônio só tem o poder que lhe for conferido pela liberdade humana.
A 1a Leitura deste Domingo (Gênesis 3,9-15) narra o diálogo acontecido após o primeiro pecado, com a consequente confusão introduzida pelo mesmo pecado. Homem, mulher e serpente acusam-se mutuamente da responsabilidade pela desobediência ao Criador. Deus age como se desconhecesse o acontecimento, possivelmente com o intuito de que eles confessassem sua culpa. Como não o fazem, recebem um castigo. Mas junto com o castigo, Deus preconiza a futura salvação: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”.
No texto da 2a Leitura (2 Coríntios 4,13-18-5,1) nos é apresentado o ideal de todo o apóstolo de Cristo: tornar-se semelhante a Cristo, que a todos nos salvou com sua morte na cruz. É a crença na morte e ressurreição do Senhor que nos leva à união vital com Cristo e que deve nos fazer a todos vivermos como anunciadores e apóstolos do Senhor.
O Evangelho (Marcos 3,20-35) apresenta-nos a controvérsia surgida entre os judeus: “Quem é este? De onde vem os seus poderes”, referindo-se a Jesus. Os escribas acusam Jesus de ser um endemoniado e seus poderes terem origem no demônio.
Tal erro fatal em relação a Jesus leva-os a um fechamento em relação à Graça e à Salvação. Esta atitude produz aquele pecado para o qual não há salvação: é o pecado contra o Espírito Santo, ou seja, o de atribuir a uma ação demoníaca a salvação que nos vem oferecida por Jesus. Que triste situação a daqueles homens e a de todos aqueles que se fecham para a Graça de Deus.
Nós, que participamos da Sagrada Eucaristia somos aqueles bem-aventurados, capazes de abrirmos nossas vidas para a Graça da Salvação que é Jesus. Comungar significa colocar-nos em estreita união de vida com Deus e dele receber a força para testemunharmos no mundo sua Graça e seu Amor.