Detesto cera no futebol. Acho a cera irritante, patética. E quando comento isso as perguntas são sempre as mesmas: “E se teu time estivesse ganhando?”. Minha resposta também é sempre a mesma: “Não interessa, não curto e pronto”.
Por aqui o jogador tem a cultura da malandragem, de tirar vantagem. A nossa cultura de forma geral é assim, deixando claro que a maioria das pessoas adota a curva para o lado correto. Mas, ainda sobre o jogador de futebol, o engraçado é que basta que ele vá jogar no exterior para abandonar a cera em um estalar de dedos. Como? Lá ele é cobrado pelos próprios companheiros.
Lembrei de um jogo do União-FW em Vacaria. Pressão do Glória, mas o zero a zero seguia firme. E quando não caía o goleiro, caía um jogador da linha. Eu me coçava na cabine. Isso mesmo. Meu time fazendo cera e me irritando. O árbitro acrescentou sete minutos. Iríamos até aos 52. Adivinha o que aconteceu aos 51? Sim, gol do Glória. Um minuto depois o jogo acabou e foi o time inteiro pra cima do juizão. Até porta de vestiário andaram amassando. A cera foi punida. Este é só um exemplo de milhares.
Falando em goleiro, quando o time está ganhando e ele faz um milagre, despenca cheio de dores. Engraçado que nos treinos ele faz 50 vezes a mesma coisa e “incrivelmente” está sempre inteiro. Pois é.
Somente duas situações podem acabar com a cera no futebol: tempo cronometrado ou mudança radical de postura da arbitragem. Até acho que a segunda opção seria a mais adequada por questões de estrutura. Um tempo cronometrado de 30 minutos cada lado, por exemplo, demandaria muita parafernália, sei lá.
Cito mudança de postura com um exemplo: acréscimo de 12, 15 minutos. Os “fazedores” de cera se acharão injustiçados, arrancarão cabelos, bradarão aos céus, mas o acréscimo é esse e fim de papo. Até imagino um diálogo entre jogador e árbitro.
– Mas era no máximo acréscimo para seis minutos – vai chorar o capitão do time.
– Não importa. Quem manda aqui sou eu – dirá o árbitro.
– Enlouqueceu, professor? – questionará o técnico.
– Outra reclamação e eu aumento mais um – encerra ele.
Em resumo, se todos os árbitros adotassem uma postura assim, tchau para a cera. Cera de cinco minutos, dez de acréscimo. Ninguém mais acharia vantajoso. E mesmo que a cera não fosse extirpada em 100%, se reduziria consideravelmente. O que, convenhamos, já seria um bom começo.