Jesus Cristo é a meta final da História. É, pois, com razão que encerramos o Ano Litúrgico aclamando-o como Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, Senhor e Rei de todo o Universo.
E como Jesus nos aparece na leitura do Evangelho de hoje? (João 18,33-37) Diante de Pilatos, Ele se declara Rei: “Tu o dizes: eu sou rei”.
Este Rei tem também um trono, que é a cruz. E Jesus mostra o seu poder salvador, não descendo do trono da Cruz, mas efetuando, por meio dela, a obra da salvação da Humanidade! Pregado na Cruz, oculta a sua majestade e quer manifestar em que consiste a sua realeza: o perdão para os que o insultam e maltratam; a garantia do paraíso ao ladrão arrependido; o abrir-nos de vez as portas do Reino dos Céus até então fechadas pelo pecado. Através da cruz Ele estabelece o seu reinado, com o amor que nos mostra “até ao fim”; assim reconcilia com Deus todas as coisas, “que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados…” como nos diz a 2a Leitura (Apocalipse 1,5-8). O seu reino é “um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz” (Prefácio).
Mas, assim como acontecia no Calvário, o drama da rejeição do amor deste Rei de Paz e de Misericórdia continua atual. Confrontamo-nos com uma sociedade que teima em viver de costas para Deus e tenta impor um projeto de vida ao avesso do maravilhoso plano de amor e de paz inscrito no coração humano e na própria natureza das coisas. São João Paulo II advertia que se verifica a difusão duma mentalidade inspirada no laicismo e esta ideologia leva gradualmente à restrição da liberdade religiosa até promover um desprezo ou ignorância do religioso, relegando a fé para a esfera do privado e opondo-se à sua expressão pública, o que nada tem a ver com a justa laicidade do Estado. Ora “uma sociedade em que Deus é absolutamente ausente autodestrói-se; vimo-lo nos grandes regimes totalitários do século passado”, como nos ensina o Papa Emérito Bento XVI.
Em face desta situação, que vem já de muito tempo atrás, Pio XI instituiu esta festa de Cristo Rei em 1925. O grito de S. Paulo, “é preciso que Ele reine” (1Coríntios15, 25) é a aspiração de todo o discípulo de Cristo, que se expressa no lema litúrgico: “Regnare Christum vólumus!” (Queremos que Cristo reine!). E foi assim que Jesus nos ensinou a rezar na oração do Pai-nosso: “Venha a nós o vosso Reino”.
Perante o reinado de Cristo a nossa atitude não pode ser a de ficarmos passivos, limitando-nos a receber os bens do Reino. A vocação cristã implica a missão de ser apóstolo deste Reino. O Concílio Vaticano II, ao falar dos leigos, proclama que, “por própria vocação, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as de acordo com Deus” (LG 31).
Para isso, antes de mais, temos de fazer com que Cristo reine plenamente em nós próprios. Que Ele reine na nossa inteligência, procurando conhecermos cada vez melhor as verdades da fé aderindo interiormente a elas; que Cristo reine na nossa vontade para que ela se identifique com o querer de Deus e o seu projeto de salvação; que Ele reine no nosso coração para que ele não se apegue a nada contrário ao amor de Deus. Só então poderemos dar um testemunho válido e contribuir eficazmente para o reinado de Cristo na nossa família, no nosso ambiente de trabalho, enfim, na sociedade em que vivemos.