Finados, Halloween ou Dia de los Muertos?
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segunda, 01 de novembro de 2021

Estamos quase às vésperas de uma famosa efeméride (Data Comemorativa) celebrada no mundo inteiro, mas com significados diferentes. Pois, enquanto uns choram pelos seus mortos, outros festejam de uma maneira muito tradicional. O que dizer dessa dicotomia? Apenas entender que cada cultura tem uma maneira de entender a morte e, portanto, nos cabe respeitar. Um pouco de história sempre ajuda a compreender a origem dos costumes e a forma como foram introduzidos na sociedade, além de evitar que façamos juízos distorcidos do que não dominamos com propriedade. Logo, vamos começar pela origem do Dia dos Finados, que começou a existir a partir do ano 998 D.C através de Santo Odilon, abade de um mosteiro beneditino em Cluny, na França. Na época, ele ordenou que os monges rezassem por todos os mortos, conhecidos ou desconhecidos, contudo, a data do dia 2 de novembro só ficou oficializada quatro séculos depois pela Igreja Católica. Então, a data passou a ser um dia dedicado a visitar os túmulos, enfeitá-los com flores e rezar para a alma dos entes queridos. A escolha do dia 2 de novembro não foi aleatória, pois sucedeu o dia 1 de novembro quando é celebrado o Dia de Todos os Santos em alusão àqueles que morreram em estado de graça, mas não foram canonizados. E o Halloween, tão amado ou odiado por ser considerada uma festa pagã? A origem do Halloween apesar de ser atribuída a cultura americana tem origem no Reino Unido e deriva de "All Hallows' Eve", ou seja: Hallow (termo antigo para santo) e eve (véspera). Assim, o termo designava, até o século 16, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro. O vínculo com o paganismo surgiu com a associação da data do Samhain (fim do verão), celebrada por três dias pelos celtas, em rituais com fogueiras (a queima do joio) e abundância de comida após a colheita, como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no purgatório ou para repelir bruxaria e a peste negra. Hoje, o Halloween é o maior feriado não cristão dos Estados Unidos, exportado para vários países e permitindo que adultos brinquem com seus medos (inclusive da morte), de uma forma socialmente aceitável. Por fim, o Dia de los Muertos, de origem mexicana, tem origem indígena e era celebrado pelos povos nativos mesoamericanos – maias, astecas, purépechas e totonacas – muito antes da conquista espanhola (séc. XVI) e, portanto, é anterior à penetração do cristianismo no continente. Desde 2003, a data foi declarada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco que a considerou “uma das representações mais relevantes do patrimônio vivo do México e do mundo e como uma das expressões culturais mais antigas e de maior força entre os grupos indígenas do país”. Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro o México está em festa e as casas/ruas/cemitérios são enfeitados com retratos, flores, velas e caveiras. Não são dias de tristeza, mas de alegria por receber as almas dos mortos que voltam para visitar seus parentes. Finados, Halloween ou Dia de los Muertos, a importância do período que se aproxima não deve se restringir apenas a memória e homenagem aos nossos entes queridos, mas em como estamos levando nossas vidas, pois “Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?” (Confúcio). É preciso saber e gostar de viver. Aproveitar cada cadinho de hora. Cada minuto de existência e torná-la melhor para nós e para os outros. Ainda, tratar bem nossos vivos, pois do que adiantam homenagens póstumas a quem não dedicamos quase nada em vida? Sim... “A vida não passa de uma oportunidade de encontro. Só depois da morte se dá a junção. Os corpos têm apenas o abraço, as almas têm o enlace” (Victor Hugo).  
Bons Ventos! Namastê.
 

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