Homem e mulher são destinados, por vocação divina a estabelecerem entre si um laço de comunhão, fundamentado no amor. Este é o projeto estrutural de Deus para toda a humanidade: homem e mulher unidos pelo amor, na construção de um mundo no qual os filhos de Deus são gerados no amor, nascidos no amor e educados no amor, para a criação e a transformação da humanidade em um mundo marcado pelo amor. O amor é a chave de compreensão do Plano de Deus em relação ao homem e à mulher.
A 1a Leitura deste Domingo (Gênesis 2,18-24) é o texto fundamental da Sagrada Escritura, em relação à união matrimonial entre homem e mulher. O texto nos apresenta o homem só, sem alguém semelhante a si, diverso de todas as demais criaturas do mundo. A ação de Deus, que tira uma de suas costelas e cria um novo ser faz com que ele encontre na mulher sua semelhança. Este simbolismo bíblico tem a intenção de mostrar fundamentalmente duas coisas, a ação criadora de Deus que se manifesta também na mulher, que é alguém semelhante ao homem e a profunda igualdade existente entre os dois, pois a mulher é tirada de uma parte do homem. E a finalidade que Deus dá a estas duas suas criaturas é a do amor. São criados para amar um ao outro. A consequência desta criação está expressa no texto bíblico: “Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”.
Com o Salmo Responsorial (Salmo 127) respondemos a Deus compreendendo a realidade da união do homem com a mulher utilizando-se da imagem da videira cheia de frutos. Ou seja, esta união é chamada a ser aberta à vida, à geração dos novos filhos de Deus, que são uma benção do Senhor para seus pais e para o mundo.
A 2a Leitura (Hebreus 2,9-11) é tirada da Carta aos Hebreus nos apresenta a conveniência de que o Cristo morresse por todos na cruz: isto aconteceu para que Jesus, sendo solidário conosco na morte pudesse abrir para nós os caminhos da salvação. A morte de Jesus na cruz foi um grande dom do qual todos nós participamos já nesta vida, sendo destinados para o céu.
“O que Deus uniu, o homem não separe” nos ensina Jesus no Evangelho de hoje (Marcos 10,2-16). É importante levar em consideração que os povos antigos, em geral, acolhiam com tranquilidade a poligamia. A mudança trazida pelo Antigo Testamento e confirmada por Jesus trouxe, fundamentalmente, duas consequências muito importantes: de um lado, uma verdadeira valorização da mulher, considerada pelas culturas antigas como inferior ao homem. Por outro lado, trouxe a possibilidade de escolher seu marido no matrimônio através de um ato de decisão pessoal. Ainda por muitos séculos persistiu nas diversas culturas uma compreensão da inferioridade da mulher frente ao homem, o que contraria frontalmente a mensagem do Evangelho, ensinada por Jesus.
Infelizmente, nossos tempos têm uma compreensão bastante prejudicada do Matrimônio, assim como ele é querido por Deus. A indissolubilidade e a unidade do Sacramento do Matrimônio exigem um princípio basilar: a compreensão de que um e outro não são imposições externas, uma simples lei, mas antes de tudo um dom e uma conquista. Quem compreende a grandiosidade do amor que Deus tem para conosco, do fato de que jamais ele desistirá de nós, enquanto estivermos neste mundo, não pode deixar de entender que o Matrimônio não é uma loteria, não depende da “sorte”. É um caminho de santificação que leva para o céu, “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, na promessa de nunca se desistir um do outro.