A saudade que eu quero ter
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sexta, 17 de setembro de 2021

Costumeiramente se difunde que “saudade” é uma palavra portuguesa sem tradução para outras línguas... Pois é, mas se é intraduzível, o fato é que ela é um sentimento universal. Dizemos sentir saudades para pessoas que não vemos há certo tempo e ao nos referirmos a lugares ou situações que nos deixaram com um sabor de quero mais. Diria que essa é a “saudade boa”, pois nos faz sorrir e desejar matá-la com um reencontro de abraços. Mas, e quando a saudade vira sofrimento? Nesse caso, podemos dizer que estamos vivenciando o sentido literal da palavra saudade que tem sua origem no latim e significa solidão. Porém, a saudade em nada tem a ver com solidão! Pois, a saudade é para ser um sentimento positivo, mesmo quando nos reporta a quem não tem mais como voltar. 
A saudade é multifacetada e se desvela em saudades de gente que partiu/foi morar fora/morreu, saudades de nós na meninice, saudades de períodos de vida, saudades de lugares em que vivemos e de coisas que não fazemos mais. Pode ser loucura, mas pode haver saudade até no que não vivemos, de tão tangível que às vezes se apresentam nossos desejos. 
Durante muito tempo, a saudade foi associada à desilusão, perdas amorosas e de morte, sendo prova disso os inúmeros poemas e músicas dedicados ao assunto. Até Caio Fernando Abreu se rendeu à saudade quando diz: “Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram”. 
Acho que já deu para perceber que quando a saudade dói, a raiz da dor não está em perdas, ausências ou distâncias, mas em algo mal resolvido dentro de nós. Então, primeiro nos resolvemos para depois somarmos junto ao outro e, talvez, o grande erro seja a insistência de “buscar” ao invés de “somar”. Descomplicar a vida também está em alta. Puxa! Tem coisa tão simples que se resolve com um aperto de mão, um telefonema, uma viagem ou um convite e insistimos em nos boicotar em não fazê-los. Medo do quê? De não encontrar outra mão para apertar? Da ligação cair na caixa postal? De receber um “não” ou uma porta fechada, mesmo quando a campainha insiste em tocar? Quem tem medo não consegue ter a verdade e perde de viver. Vive preso em suposições, em “serás” e transforma a existência em reticências... 
Então, “Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo. Não viva de fotografias amareladas...” (Madre Teresa de Calcutá), pois a saudade fica bem resolvida quando decidimos quando lembrar ou quando sentir algo, mas para isso às vezes é necessário usar pontos finais.
Bons Ventos! Namastê.
 

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