Meu avô gostava de contar esta história. Lá pelas bandas das Terras Velhas, um vizinho seu muito devoto de Nossa Senhora não perdia a Festa dos Navegantes. No dia santo, encilhava seu pingo e partia para a tradicional devoção. Sua esposa acamada fez-lhe uma recomendação: “Não esqueça de me trazer um pedacinho de madeira do barco. Corte um naco daquela lenha sagrada que vai me curar”. Nosso religioso herói fez a travessia na barca da Santa, assistiu missa e respondeu piedosamente todos os “Rogai por nós”. Para completar a tradição, junto com os compadres, refestelou-se em um suculento churrasco, devorou umas que outras “geladas” e depois se divertiu em um concorrido jogo de baralho, dentro do salão paroquial, como rezavam os protocolos. Ao entardecer, montou o zaino e retornou ao lar. Chegando à porteira, lembrou-se da advertência: esquecera o pau da barca! Não titubeou: puxou o canivete e cortou uma lasquinha do poste do potreiro. Nem bem pusera o pé em casa e já ouviu a cobrança: “Trouxe o que lhe pedi?” “Claro, mulher”. “Então – respondeu a esposa – vai à cozinha, coloque a madeira na chaleira, ferva e me traga o chá”. E assim se fez. No dia seguinte, a fervorosa esposa estava curada dos achaques. O esposo remoía: “Mais vale a fé que o pau da barca”.
Muita gente confunde o que é verdadeiramente a fé, o milagre e a simples sugestão. Inúmeros fatos ocorridos são tachados como milagres, quando na realidade são sugestões, forças da mente que a parapsicologia explica. Uma benzedeira pode derrubar os bernes de uma vaca, há léguas de distância, por meio de impulsos magnéticos do seu cérebro. Para enfeitar a mandinga, complementa o ato com rezas e cruzes. Um professor pode sugestionar o seu aluno, com frases positivas e o estudante acertará as questões da prova. Milagre? Não. Apenas sugestão. “Praga de urubu velho não mata cavalo gordo”, apregoa o gaúcho.
Para que se comprove MILAGRE exige-se a intervenção do sobrenatural sobre o humano. Tem de se constatar uma modificação que não encontra solução dentro da natureza. É o que se requer na canonização de um santo. Em Lourdes, médicos analisam, dentro do rigor da ciência, se a cura foi realmente uma intervenção divina e se o resultado não poderia ter acontecido mediante remédios ou quaisquer outros procedimentos humanos. O milagre não tem explicação científica. É a potência de Deus diante da impotência do homem.
Milagre foi a multiplicação de cinco pães que alimentaram 20 mil pessoas. Milagre foi a Ressurreição de Lázaro, que já fedia, sepultado há quatro dias. Milagre foi o movimento do sol, em Fátima, no dia 13 de outubro de 2017, presenciado por 70 mil pessoas e que tiveram as vestimentas secas em minutos, após sofrerem chuva torrencial. Milagre foi Santo Antônio beber um chá envenenado pelos adversários e ainda agradecer pela gentileza. Milagre foi São Lourenço, assado numa grelha, ter a ironia de suplicar aos algozes “podem virar, este lado já está cozido”. Milagre foi Paulo na ilha de Malta ser mordido por uma cobra venenosa e nada lhe acontecer.
A Fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Está acima da razão. Fé e ciência jamais poderão se contradizer. “Se o homem rejeitar a boa consciência, naufragará na Fé” (1Tm 1,18). É um dom de Deus. Ninguém deu a Fé a si mesmo, como também ninguém deu a vida a si mesmo. Cristo pregou “Se tiverdes fé, até a montanha mudará de lugar e produzireis milagres”. Todavia, há fatos extraordinários chamados erroneamente milagres. Agora, se o Inter ficar campeão da Libertadores, isto poderá ser denominado milagre, porque só a intervenção divina poderá salvar aquela defesa, vulnerável até pelo União de FW...