Continuando o debate da semana anterior, temos que ter em mente que mais de um quarto das famílias gaúchas têm filhos na educação básica. Com a pandemia, essas crianças/adolescentes receberam aulas remotas de diferentes formas ou ficaram para trás, sem receber conteúdo. Estamos falando de um ano e meio com precarização do processo educacional, em pleno século XXI. Um déficit que será sentido por gerações em diferentes campos de relacionamento social, desde o mercado de trabalho até a universidade.
Pesquisa realizada pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião no estado do RS, com 1.500 entrevistados, verificou que os pais vivem uma dicotomia: de um lado demonstram receio em mandar os seus filhos para a aula presencial. Por outro lado, reconhecem que os estudantes tiveram e estão tendo dificuldades em acompanhar e aprender com as aulas remotas. Diante desse cenário, 70% dos pais consideram que as aulas remotas não foram eficientes para o aprendizado das crianças e dos adolescentes.
Não se sabe quando o sistema será retomado de forma totalmente presencial. Essa falta de perspectiva mostra que a retomada da educação não será uma tarefa fácil. Exigirá uma reinvenção das escolas, dos coordenadores pedagógicos, dos professores e dos pais.
O sistema de educação híbrido deverá ser mantido, seja pela necessidade de aulas híbridas para os alunos que não se sentem seguros para ingressar em uma aula presencial, seja como instrumento das aulas de reforço, de conexão entre conhecimentos perdidos na pandemia com os aprendizados futuros.
A pesquisa identificou uma série de preocupações, conforme o estágio do aluno. Os pais de crianças da educação infantil avaliam que também houve prejuízo na socialização, a criança se tornou mais individualista e menos interessada em atividades que exigem atenção.
Os pais de crianças que estavam em séries iniciais, com um único professor, relatam que o filho ficou sem referência quando passou a ter muitos professores, perdendo inclusive disciplinas inteiras. Imagine uma criança que em 2019 estava na quarta série com o sistema de um único professor e começou a pandemia com aula remota, com vários professores, cada um utilizando um canal de contato diferente. O aluno ficou sem compreender o todo!
Maior ainda é a preocupação dos pais com filhos que estavam no ensino fundamental em 2018 e agora estão na metade do ensino médio, sem nem conhecer os professores. Esses adolescentes, que precisam se preparar para a universidade ou mercado de trabalho, passam pelos mais variados tipos de dificuldade, conforme a sua realidade social.
O primeiro grupo, com menor renda, esbarra no acesso à tecnologia. Uns não têm internet, outros não têm o equipamento e outros tantos não têm nenhum dos dois. Os que superam a tecnologia estão esbarrando na dificuldade de entendimento do conteúdo, na maioria das vezes não podem contar com o apoio pedagógico dos pais. E há ainda aqueles que têm os meios de acesso, têm a possibilidade de ter o apoio dos pais, mas não conseguem se concentrar em atividades remotas. Esse é um dilema que afeta os alunos de escolas privadas.
Independentemente do tipo de escola, a pandemia prejudicou o desenvolvimento de toda uma geração, e a retomada da educação deve ser acompanhada de um planejamento customizado, que tenha a sensibilidade de conectar as lacunas deixadas pelas aulas remotas.