No artigo da semana passada citei os principais campos que compõem a realidade em que vivemos e que utilizamos para construir a nossa realidade pessoal, com base nos simbolismos, na maneira como observamos e entendemos os movimentos dessas diferentes realidades que nos circundam.
Imagine o dia a dia de um instituto de pesquisas como o IPO, com equipes de entrevistadores que, em um dia, podem ouvir mais de mil pessoas. E cada entrevista é única, cada entrevistado tem a sua opinião, a sua percepção e a sua visão de mundo. No final, essas visões se agrupam de acordo com o gênero, a idade, a renda e o grau de escolaridade.
No fim da pesquisa, pode-se chegar a números que mostram tendências da sociedade que são a fotografia do momento, pois a opinião não é estanque. Como a realidade muda, a opinião muda também!
A população pode concordar em um momento com o desarmamento e em outro momento discordar. Em uma determinada época, as pessoas podem valorizar o casamento e em outra não atribuírem a ele o mesmo valor. Uma hora se diz que o futuro será pelo trabalho remoto e, logo depois, que as pessoas estão voltando para o trabalho presencial. E poderíamos citar tantos e tantos outros exemplos que mostram as divisões e as mudanças da opinião pública.
Esse comportamento oscilante demonstra que a realidade é mutável, pois mudamos de ideia conforme a influência que sofremos pelas várias realidades que fazem parte do nosso cotidiano: a realidade social, a realidade cultural, a econômica, a política e a virtual, todas elas mexem com a nossa realidade psicológica, alterando a nossa opinião. E isso ocorre até mesmo na forma como cuidamos da nossa casa, cozinhamos, etc.
E estes diferentes campos da realidade também afetam a nossa ideologia e nossos valores morais e sociais. Não é à toa que as últimas eleições nacionais foram polarizadas politicamente, com a maioria da população escolhendo um extremo, seja de direita ou de esquerda. A maioria do eleitorado não tem apreço nem por Lula e nem por Bolsonaro, mas acaba atribuindo o voto a um destes candidatos para tentar eliminar o candidato que considera pior. Isso faz com que a realidade política em que vivemos seja construída mais pela exclusão do que pela preferência.
Esse movimento continua sendo ativado pelas decisões do STF, pelas matérias sensacionalistas da mídia, pelos discursos do ódio nas redes sociais que motivam uma eterna campanha política, em que as acusações mútuas estão sempre estimulando a ideia de cassação de direitos políticos e até de prisão dos candidatos. E essa polarização política radicalizada mantém os torcedores de cada lado sempre ativos, incentivando a sensação de que há um campeonato em curso e que cada “partida do jogo” é um ponto no campeonato, fazendo com que a política seja comparada a time de futebol, com muitos torcedores fanáticos.