A sensação de vazio existencial que ocasionalmente nos invade, costuma gritar por fortes emoções e soluções instantâneas como paliativo a preencher dores que por vezes nem entendemos, desveladas por sentimentos de solidão e abandono. Em sua maioria, são questões existênciais que irrompem com celeridade os cotidianos contemporâneos, desenhados por uma sociedade que passou a oferecer inúmeras possibilidades – ofertas de prazeres de todos os tipos –, outrora jamais pensadas.
O excesso do verbo “desejar” pode transformar sentimentos de motivação para algo que beire a depressão quando esse desejo passa a ser desvairado, sem foco, mimetizado em vontades alheias e tendo como horizonte, metas inatingíveis. A efemeridade com que usufruímos as coisas que atingimos, também corrobora para o vazio, quando deixamos de ter gratidão por pequenas e grandes coisas e passamos apenas a desejar de forma insaciável a tudo e a todos.
Como não querer que a vida se torne uma eterna miragem, um niilismo existencial, se nossas significações são baseadas em superficialidades? Não está havendo espaço para enraizarmos mais nada devido à frivolidade com que saciamos nossos desejos de modo que, sentir-se só mesmo acompanhado não deveria causar estranheza a quem vive o descontrole de não saber o que quer. O menosprezo pela vida em sempre ver o lado negativo das coisas e em não achar motivos para comemorar mesmo levando uma vida com saúde, tendo condições razoáveis de sobrevivência, um emprego, um relacionamento afetuoso nos leva a refletir sobre o mito da caverna de Platão, quando o filósofo afirma que somos seres vazios por natureza assim como a caverna, em busca incessante por preencher nossas interioridades. Na verdade, fugimos de encarar nosso EU interior e nos perdemos nas quinquilharias mundanas como passatempo, em uma cegueira irracional que nos isola e aniquila tal qual Macbeth de Shakespeare divagando sobre a vida: “Apaga, apaga, vela breve! A vida é só uma sombra móvel. Pobre ator. Que freme e treme o seu papel no palco e logo sai de cena. Um conto tonto dito por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada. ”
Nascemos vazios, zerados sendo nossa história construída a partir das vivências e das trocas que fazemos. Com isso, somam-se miudezas, retalhos, saldos de vida em um baú de fundo infinito que embaralha momentos e pessoas em recordações que mostram que a vida não passou em branco. O vazio não deve ser confundido com o doce silencio de comungarmos com nossos próprios pensamentos, tampouco com os solilóquios que narramos já que o vazio ocorre quando não suportamos nossa própria companhia.
Tudo isso poderia se resumir em falta de amor próprio, em não apreciarmos o que vemos no espelho a mercê dos motivos que nos levem a isso, sabendo que “o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta ao meu mistério” (Clarice Lispector) na imanência do que somos.
Bons Ventos! Namastê.