A violência doméstica segue sendo uma experiência concreta e estruturante na vida de milhões de brasileiras e nem estou entrando no mérito dos feminicídios. Os dados mais recentes de uma pesquisa nacional realizada pelo DataSenado mostram que esse fenômeno não pode ser tratado como episódico, invisível ou restrito ao âmbito privado.
Em 2025, 27% das mulheres no Brasil declararam já ter sofrido algum tipo de violência doméstica ou familiar em algum momento da vida. Esse número, por si só, já indica uma dimensão alarmante. No entanto, quando se observa a sobreposição entre a violência declarada e a violência vivida nos últimos 12 meses, o quadro se torna ainda mais revelador.
Praticamente todas as mulheres que afirmaram ter sofrido violência no último ano relataram ao menos uma das situações objetivas investigadas pela pesquisa, que incluem agressões psicológicas, morais, físicas, patrimoniais, sexuais e digitais. Isso evidencia um ponto central para a análise, a violência não é apenas percebida de forma subjetiva, ela se materializa em práticas cotidianas reconhecíveis, recorrentes e persistentes. A repetição dessas vivências indica ciclos de violência que não são interrompidos, nem pelo tempo, nem pelas políticas públicas existentes.
Esse cenário dialoga diretamente com a percepção social captada pela pesquisa. Apenas 46% das mulheres afirmam ser tratadas com respeito no dia a dia. Sete em cada dez consideram que o Brasil é um país machista e 79% acreditam que a violência contra as mulheres aumentou nos últimos 12 meses. Essas percepções não surgem do acaso, elas são construídas a partir da experiência concreta, da observação do ambiente social, do noticiário e da insuficiência das respostas institucionais.
Há, portanto, uma convergência entre vivência, percepção e diagnóstico social. As brasileiras reconhecem a violência porque a sentem, a testemunham e convivem com ela em suas relações familiares, afetivas, profissionais e digitais. Ao mesmo tempo, percebem que o problema não está sendo enfrentado com a intensidade e a prioridade que exige. Isso produz um sentimento de insegurança, desamparo e descrédito na capacidade do Estado de as proteger.
A violência doméstica não pode ocupar um lugar secundário no debate eleitoral de 2026. Ela precisa estar no centro das agendas dos candidatos, não apenas como resposta emergencial, mas como política estruturante. O enfrentamento passa, necessariamente, pela ampliação das redes de proteção, pela qualificação dos serviços de atendimento e pela responsabilização efetiva dos agressores. Mas passa, sobretudo, por políticas consistentes de educação e conscientização que precisam perpassar nossas relações sociais.
Sem educação para a igualdade, para o respeito e para a ruptura dos padrões machistas que naturalizam a violência, o país seguirá atuando apenas sobre os efeitos, e não sobre as causas. As mulheres representam mais da metade da população e são responsáveis pela educação da outra metade. Então, quando falo em educação e conscientização estou falando de um novo modelo mental de relação e respeito mútuo entre homens e mulheres que deve começar dentro das casas, com mais e mais intensidade nas escolas, nas igrejas, nos ambientes de trabalho, no transporte público e em toda a sociedade.