O comportamento do eleitor invisível
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terça, 05 de agosto de 2025

Em uma época dizia-se que o eleitor não sabia votar. Em outra, que o eleitor votava mal. E agora, afirma-se que o eleitor tem optado por um voto mais radicalizado, favorecendo a polarização política entre esquerda e direita. 
Desde a abertura política, temos gasto energia responsabilizando o eleitor por suas escolhas, como se os políticos fossem quase vítimas da indignação e do ceticismo de um eleitorado que acredita cada vez menos na política e em seus representantes.
Ao longo de três décadas escutando o eleitor, por meio de pesquisas sistemáticas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, pude testar diferentes teorias, com destaque para as teses ligadas à cultura política. Essa teoria investiga como a cultura influencia e molda o comportamento político e as instituições de uma sociedade. Ou seja, há muitos anos acompanho de perto pesquisas que avaliam crenças, valores e atitudes da sociedade.
Dizer que a opinião pública brasileira altera sua percepção e posição a cada período não é novidade. O verdadeiro desafio é compreender o que move essa opinião, o que leva o eleitor a dar “olé” para um lado e depois para o outro. Existem várias explicações possíveis, nunca há um único fator determinante para as decisões do eleitorado. Contudo, há um ponto comum que venho destacando há muito tempo: “o voto tipo aposta” de uma parcela significativa de “eleitores invisíveis” que decidem os rumos do Brasil, do Estado e de nossas cidades.
Esse grupo não apenas decide os rumos do processo eleitoral, como também vive na linha de frente das desigualdades e carências mais profundas. São pessoas que lutam para sobreviver economicamente, que sentem com mais intensidade a precarização dos serviços públicos. Que têm dificuldade para conseguir realizar exames, consultar com especialistas e que aguardam por anos uma cirurgia. A educação continua sendo um desafio com escolas públicas que não resolvem problemas estruturais, como falta de professores e não possuem uma projeção para incluir a tecnologia no cotidiano escolar. Sem falar da segurança pública, em que a população tenta se reinventar, tendo um país cada vez mais violento e com a ampliação diária de golpes digitais.
Esses eleitores são movidos por uma racionalidade própria, que não se baseia em ideologia ou discursos sofisticados, mas sim em uma lógica concreta e cotidiana, moldada pela realidade que enfrentam.
Eles votam impulsionados por uma espiral que alterna esperança e frustração. Esperança, quando enxergam na promessa eleitoral uma possível resposta para a sua dor. Frustração, quando percebem que a política falha, mais uma vez, em cumprir o que prometeu. A cada ciclo, renova-se uma aposta. Não se trata de ingenuidade, é sobre sobrevivência. A política, para esses brasileiros, é menos sobre convicção e mais sobre urgência. Podemos dizer que estes eleitores “são invisíveis” pois decidem os rumos, mas não se comportam como protagonistas. Não protagonizam nas redes sociais, nem ocupam espaço nas bolhas políticas, mas são eles que sentem na pele os efeitos das decisões tomadas pelos políticos em seus gabinetes. 
Sua escolha nas urnas, longe de ser desinformada ou passiva, nasce do cálculo cotidiano entre sobrevivência e esperança. Invisível para os discursos oficiais dos políticos e do governo, mas visível nas ruas, nos ônibus, nos locais de trabalho, nos postos de saúde e na maioria das famílias brasileiras.
 

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