O Dia Nacional da Doação de Órgãos é celebrado nesta quarta-feira, 27, e a campanha deste ano no Rio Grande do Sul tem o lema “O amor vive”. O tema foi muito comentado nas redes sociais com a notícia do apresentador Fausto Silva na lista de transplantes. Desde 2007, o dia foi criado para lembrar a população da importância de falar sobre o assunto, principalmente com os familiares. Em caso de morte encefálica, cabe ao cônjuge, pais ou parentes mais próximos autorizar, ou não, a doação de órgãos e tecidos.
O transplante de coração do apresentador Faustão pode ser um dos impulsionadores dos índices de doadores ter aumentado em nível nacional. Os níveis de doação estão voltando ao patamar pré-pandemia da Covid-19, segundo avaliação da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). As projeções da entidade mostram que 2023 tem o potencial de bater o recorde de doações anuais. No primeiro semestre deste ano, foram registrados 19 doadores para cada 1 milhão de brasileiros. No mesmo período em 2022, foram 16,5. No Rio Grande do Sul, a doação de órgãos aumentou 36% em comparação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a julho deste ano, foram 441 órgãos captados, oriundos de 164 doadores.
Para o coordenador da Central de Transplantes do Estado, Rafael Rosa, o ideal seria lembrar todos os meses, mas em setembro há um empenho maior para ações de visibilidade e conscientização. Ele também reforça que além da conversa com familiares, há meios legais de ser reconhecido como doador. A Central Notarial da Doação de Órgãos, que interliga as declarações da população com a Central de Transplantes gaúcha, já recebeu 793 escrituras, desde março.
Para declarar a vontade em cartório é rápido e gratuito, basta levar um documento de identificação. Caso queira, o cidadão pode indicar até duas pessoas como testemunhas, basta o nome completo, CPF e contato. A revogação da declaração pode ser feita a qualquer momento.
Outras ações pensadas para aumentar o número de pessoas interessadas em se tornar um doador também foram divulgadas. Há o programa “Doar é legal”, promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). A emissão de certificado de doador tem caráter de manifestação da vontade, sem validade jurídica.
No início dos anos 2000, era permitido que o cidadão tivesse a informação de doador, ou não, na sua carteira de identidade. Contudo, a ideia foi um prejuízo, segundo avaliação de Rosa. “Ninguém explicava nada sobre doação de órgãos, então a maioria das pessoas optava por não ser doador”, lamenta o coordenador. Por anos, a opção não foi mais incluída nos documentos, e a partir de 2022 foi possível incluir este desejo novamente, apenas nos casos de pessoas com interesse em doar.
A doação de órgãos só acontece quando há morte encefálica, e apenas 1% das mortes ocorre assim. Além disso, é preciso realizar diversos testes para averiguar a compatibilidade entre doador e receptor, e as condições de saúde de quem vai receber o órgão. No Rio Grande do Sul, 44% dos parentes negam a doação dos órgãos dos seus familiares, e alegam desconhecimento das vontades do falecido.
Há o Projeto de Lei n° 3176, de 2019, tramitando no Senado, que sugere a doação compulsória de órgão e tecidos. Neste caso, presume-se que toda pessoa seja doadora, em caso de morte encefálica. Mas para Rosa, o momento não é ideal pois ainda existe muita desinformação sobre o assunto. “Com todas as dúvidas que a sociedade tem e boatos em relação ao tráfico de órgãos ao processo, se isso for aprovado, pode reduzir as doações”, lamenta. Ele acredita que em cinco ou dez anos, pode ser que a população tenha mais conhecimento sobre o assunto e a doação compulsória não seja um tabu.
O caso Faustão
O apresentador Fausto Silva, o Faustão, foi assunto recentemente por condições graves de saúde e entrou na lista de transplantes no estado de São Paulo. Ele foi internado por insuficiência cardíaca no início de agosto e realizou a cirurgia de transplante no dia 27. Por ter ficado na fila por menos de um mês, muitas pessoas comentaram nas redes sociais que ele havia “furado a fila”. No período em que Faustão esperou pelo órgão, outras dezenas de pessoas passaram por transplante.
O diretor da Central de Transplantes esclarece o rigor do processo que ocorre após a liberação para que a pessoa com morte encefálica tenha seus órgãos doados. “Uma lista de possíveis receptores é emitida e então testes de compatibilidade são realizados para selecionar a pessoa mais adequada”, afirma Rafael Rosa. Além da compatibilidade sanguínea e de tamanho dos órgãos, também segue-se a ordem de gravidade, ou seja, o possível receptor que corra mais risco.