Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), quatro milhões de pessoas morrem no mundo, por ano, devido à obesidade. No Brasil, 20% dos brasileiros são obesos e 57% têm sobrepeso. Como tratar o problema não depende apenas da vontade da pessoa, os avanços farmacológicos são bem-vindos para combater a doença. E é exatamente neste ponto em que as opções para estimular o emagrecimento despertam uma dúvida. Será seguro ou as consequências e efeitos colaterais podem ser graves e até fatais?
O Ozempic – desenvolvido contra a diabetes tipo 2 – é o medicamento mais querido do momento, usado por celebridades no mundo inteiro, mas para outra finalidade: perder peso rapidamente, um efeito secundário da droga. O custo unitário no Brasil gira em torno de R$ 1 mil por mês e, mesmo assim, no ano passado, o produto faltou nas farmácias.
Entretanto, o uso do medicamento traz ponderações. Além das informações divulgadas que o Ozempic pode causar diarreia e enjoo, e que não deve ser usado sem orientação médica, a semaglutida precisa ser tomada pelo resto da vida, ou o paciente engorda novamente. E se não fosse suficiente, a droga pode causar câncer, especialmente, de tireoide.
Como funciona
O Ozempic é uma versão artificial do GLP-1, que atua sobre vários órgãos. Entre suas funções, comanda o pâncreas para aumentar a produção da insulina após a refeição, e gera a sensação de saciedade. E ainda se conecta ao cérebro para desligar os sinais da fome. É esse hormônio que faz pararmos de comer e suas ondas têm duração de dois minutos. Com a versão sintética do GLP-1, a duração é de sete dias, cinco mil vezes mais tempo do que a forma natural.
A substância liberada na corrente sanguínea é metabolizada por enzimas (peptidases) capazes de quebrar proteínas ou peptídeos e, depois, eliminada por via renal, principalmente, pela urina. O Ozempic age em receptores do sistema nervoso central para controlar o apetite e retarda o esvaziamento gástrico, como se a pessoa ficasse mais tempo com a comida no estômago. O principal estudo sobre a semaglutida indicou perda média de 14,9% do peso total em 17 meses em pessoas obesas.
Perigos do Ozempic
Sem orientação médica, situações como tomar uma dose muito elevada do Ozempic pode causar a famosa “face de Ozempic”, quando o paciente emagrece muito rápido e fica com o rosto com aspecto de “derretido”, além de desnutrição e desidratação. Um artigo publicado recentemente na revista Acta Pharmaceutica Sinica B concluiu que o uso prolongado destes medicamentos pode levar ao aumento do volume do intestino delgado e, consequente, obstrução do órgão.
Mas quando é indicado?
Para saber quem mais se beneficiaria do tratamento com a semaglutida, é preciso antes conhecer uma das medidas mais utilizadas para diagnosticar quadros de sobrepeso ou obesidade: o Índice de Massa Corporal, ou IMC. Para chegar a esse número, basta dividir o peso de um indivíduo pela altura dele elevada ao quadrado.
O número obtido a partir dessa operação matemática se encaixa em uma das categorias, menor que 18,5 – abaixo do peso normal; entre 18,5 e 24,9 – peso normal; entre 25 e 29,9 – sobrepeso; entre 30 e 34,9 – obesidade grau 1; entre 35 e 39,9 – obesidade grau 2, acima de 40 – obesidade grau 3.
Vale dizer que o IMC é apenas uma medida de referência, e nem sempre ele reflete de modo absoluto na saúde de uma pessoa ou as condições particulares de cada um – um atleta de alto rendimento muito forte, por exemplo, pode ter números que ficam acima do “peso normal”, mas mesmo assim ele não tem sobrepeso ou obesidade. Em bula, a semaglutida está indicada para todos os indivíduos com obesidade, ou seja, com o IMC acima de 30.