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Trabalho conjunto
Região desenvolve projeto para enfrentamento à estiagem
Chuvas dos últimos dias incentiva produtores a prepararem as lavouras de inverno
Por: Márcia Sarmento
Publicado em: segunda, 15 de maio de 2023 às 11:24h

Com o fim do La Niña e ocorrência de períodos chuvosos no Rio Grande do Sul, felizmente, os gaúchos podem se despedir da estiagem que castigou as lavouras do Estado na última safra. A última segunda-feira, 8, foi o sétimo dia consecutivo de precipitações no RS, e grande parte dos municípios, já na primeira semana de maio, registraram média histórica de chuvas do mês inteiro.

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Apesar disso, as chuvas deste período não podem recuperar os prejuízos já registrados na safra de verão. Segundo dados da Emater/RS-Ascar, regional de Frederico Westphalen, com 95% do milho já colhido, a quebra nos 42 municípios chega a 50,5%. A estimativa era de uma produtividade de 8.160,17 kg/hectare, mas com a estiagem foi de apenas 4.038 kg/hectare, em uma área de 85.626 hectares cultivados.

O engenheiro-agrônomo e gerente regional da Emater/RS-Ascar, Luciano Schwerz, destaca, ainda, que quanto à soja, 94% da área já foi colhida na região, restando apenas algumas lavouras da safrinha, implantadas no mês janeiro. Foram cultivados 423 mil hectares de soja na região, sendo que a produtividade prevista era de 3.476 kg/hectare. “Hoje, a expectativa é de 2.235kg/hectares, uma redução de 35,7%. No Estado, a quebra foi ainda maior, de 40%. Podemos dizer que nossa região ainda teve o retorno das chuvas em algumas cidades no mês de janeiro, o que proporcionou uma condição melhor, em especial, nas cidades próximas ao rio Uruguai, na divisa com Santa Catarina”, detalhou.

Porém, as perdas nas lavouras da região quanto ao milho silagem foram maiores do que a média estadual. Nos 42 municípios abrangidos pela regional da Emater/Ascar de Frederico Westphalen foram cultivados 34.319 hectares. A previsão era produzir 36.162 kg/hectare, mas, em decorrência da estiagem, foram produzidos apenas 19.821 kg/hectare, uma diminuição de 45,8% frente a uma quebra de 44,6% no RS. “Ainda tivemos prejuízos na fruticultura, em especial, na citricultura, na cultura do tabaco, produção de leite e, até mesmo, na pecuária de corte”, acrescenta Schwerz.

Quanto aos valores, a Emater sempre analisa a situação com bastante cautela, pois vários fatores, como a heterogeneidade na distribuição das chuvas, a época de semeadura, o manejo e qualidade dos solos influenciaram muito na produtividade. “Há lavouras com produção próxima a zero e outras com produtividade normal. Mas, de forma geral, entre leite, milho e soja, estimamos uma perda entre R$ 1.8 bilhão e R$ 2 bilhões na região”, revela o gerente regional.

 

Safra de inverno

Muitos produtores já estão preparando suas áreas para o cultivo de inverno. De acordo com a Emater, a região deverá ter 160 mil hectares cultivados com trigo, além das áreas cultivadas com canola, aveia branca, triticale e cevada. “Estamos realizando o levantamento da intenção de plantio, mas a área deve se manter parecida com a safra passada, mesmo que a perspectiva climática aponte para o fenômeno El Niño, o qual traz mais chuvas e dificuldades para o manejo e colheita dos cereais de inverno. Um dos motivos pela manutenção das áreas é a redução no custo de produção e a necessidade de geração de renda dos agricultores que perderam boa parte da renda da safra de verão”, analisa o engenheiro-agrônomo.

Projeto para enfrentar a estiagem

Uma iniciativa liderada pela regional da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen, com apoio da Associação dos Municípios da Zona da produção (Amzop), deve trazer resultados positivos no enfrentamento às adversidades climáticas, a médio e longo prazo. A iniciativa mobiliza instituições de ensino, pesquisa e extensão rural para criação de projetos e programas estruturados, divididos em quatro etapas.

Schwerz adianta que o trabalho está em sua fase inicial, cabendo aos municípios da região, a tarefa de apontar os principais gargalos, desafios e problemas enfrentados durante a estiagem, além de elencar cinco áreas prioritárias para criação de programas e projetos que serão elaborados por essas instituições, e apresentados para lideranças do meio político regional, estadual e federal.

– Precisamos criar e incentivar medidas estruturantes, que permitam ao agricultor enfrentar as estiagens com maior capacidade de resiliência, com menor impacto financeiro e com maior capacidade de recuperação. Não vamos fazer chover, mas precisamos estar preparados. Agricultores preparados ganham mais dinheiro e têm mais sustentabilidade em seu negócio em anos bons ou ruins. Por isso, nosso objetivo é de que possamos juntos construir uma nova visão, ajustando nossas modelos de produção, com mais sustentabilidade e potencial produtivo. Essa mudança passa pela união dos esforços, pela pesquisa, que nos traz os caminhos mais seguros e eficientes, e claro, pela difusão das tecnologias e ações através da extensão e da orientação técnica – finaliza Schwerz.

 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai