Todos os dias, de segunda-feira a sexta-feira, às 12h15min, dona Delmina Sperafico (86 anos) está em frente à sua casa, em Pinhal, esperando o ônibus para o colégio. Com o uniforme da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Educação Especial União, seu caderno e a caixa de lápis de cor na bolsa, ela percorre alguns quilômetros até a linha Alto Paraíso, onde passa as horas mais felizes da sua rotina. Na instituição, que frequenta desde o início de 2020, Delmina não aprendeu apenas a aprimorar a pintura (sua principal paixão), mas a contornar as letras do seu nome, os números, a se relacionar com colegas especiais e, sobretudo, a ajudá-los em suas atividades. Suas limitações (não poder falar e ouvir), e a idade avançada, não foram barreiras para impedir a realização deste sonho de ir para a escola. “Antes, ela frequentava os grupos do Cras, aí resolvemos conversar com a equipe da Secretaria de Educação para ver da disponibilidade dela ir nesta turma de alunos especiais. Pensamos nisso, pois ela gostava muito de pintar e também para ela fazer uma atividade diferente já que nunca havia frequentado a escola”, conta a sobrinha Aivone Rheinheimer.
Aluna exemplar
De acordo com a diretora da Escola União, Eduarda Signor, Delmina é uma aluna exemplar, que não perde um dia de aula sequer. “A educação especial funciona todas as tardes, com oficinas de Música, Artesanato, Informática e Educação Física. São 21 matriculados, mas atualmente frequentam 18 estudantes em razão da pandemia. Com os mais de idade, atendemos pessoas com 45, 50, 86 anos, oferecemos a livre escolha para eles frequentarem todos os dias ou apenas alguns por semana. Porém, a dona Delmina vem todos os dias, ela adora vir para a escola”, conta Eduarda.
Para as professoras que trabalham na educação especial, a senhora é um exemplo de superação e carisma. “Ela desce do ônibus cumprimentando todo mundo, mandando beijo e coração. Além disso, tem um dom de ajudar os outros, incentivar eles a participarem das atividades. A luz e a energia dela são impressionantes, algo que contagia a todos nós”, afirmam as educadoras.
Além do exemplo em sala de aula, dona Delmina também inspira os munícipes no quesito cuidado com o meio ambiente. Em casa, ela separa corretamente todo o lixo que é recolhido pela prefeitura. “Ela deve ser a aluna mais idosa da região e mesmo com pouco estudo, tenho certeza, que sabe cuidar do lixo bem mais do que muitas pessoas com graduação”, destaca o sobrinho Ireno Rheinheimer.
Administração investe na educação inclusiva
A oportunidade de frequentar a escola só foi possível para a moradora graças a um trabalho desenvolvido pela administração municipal, que em 2019 implantou a educação especial na Escola União, e desde então vem custeando a manutenção das atividades e alimentando os sonhos de muitas “Delminas”.