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Mês das mães
As guardiãs de sonhos: conheça a história das mães de Pedro Perotti e Gabriel Busanello
Por trás do sucesso dos filhos – que atualmente jogam pela Chapecoense – mães contam dificuldades e curiosidades na caminhada dos atletas da região
Por: João Victor Gobbi Cassol
Publicado em: segunda, 10 de maio de 2021 às 14:08h
Atualizado em: segunda, 10 de maio de 2021 às 14:15h

Quando ainda eram chamados pelo nome, e não pelo sobrenome, Gabriel Busanello e Pedro Perotti até se destacavam em jogos ou campeonatos locais, mas, em meio a tantas crianças apaixonadas por futebol, eram apenas mais duas que sonhavam em vestir a camisa de um grande clube. Agora, titulares da Chapecoense e em evidência no cenário nacional, eles mostraram que a persistência realmente valeu a pena.

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Para chegarem até esse patamar, no entanto, Busanello e Perotti tiveram de trilhar um percurso difícil. Entre lesões, falta de oportunidades e distância da família, a dupla de Frederico Westphalen e Rodeio Bonito mais de uma vez viu o sonho “balançar”, mas seguiu em frente, amparada pelo incentivo daquelas que viveram, em pensamento, todas as lutas dos filhos, e agora desfrutam desse momento de celebração: as mães.

A cria de Castelinho

Eram muitas as incertezas e a insegurança que se abateram sobre Maila Dal Toé Busanello quando soube que estava grávida, aos 15 anos. Mas entre as dúvidas, havia garantia de que o filho seria amado e não escaparia de fardar a camisa do Grêmio Castelinho, time do distrito de mesmo nome, no interior de Frederico Westphalen, onde Maila mora até hoje com a família. E assim foi. Incentivado pelo pai e por uma geração de outros que tentaram ser jogadores profissionais, Gabriel Busanello pegou gosto pelo futebol e quis levar isso adiante.

O desejo é comum entre crianças e adolescentes, e normalmente causa arrepios nas mães destes sonhadores. Mas esse não foi o caso. Maila incentivou Gabriel como sugere o amor de mãe: incondicionalmente. Quando ele despontou na escolinha do União Frederiquense e rumou para Chapecó (SC) assinar seu primeiro contrato profissional, aos 17 anos, ela não teve dúvidas em apoiar a ida do filho para terras catarinense, morar longe de casa.

– Para mim foi como se fosse ao natural. Às vezes, as pessoas comentam ‘Maila, mas eu não deixaria meu filho sair’, ‘deixa ele estudar’. Eu sempre achei que o que vale é ser feliz. Talvez tenha sido pelo fato de eu ter perdido os pais mais nova, eu sempre tive esse pensamento, eu quero que ele seja feliz, e se ele for feliz assim, eu quero que ele vá. Nunca sofri por isso – afirma a farmacêutica de 38 anos.

O artilheiro ambidestro

Quase ao mesmo tempo em que Gabriel começava sua carreira, Pedro Perotti, em Rodeio Bonito, também sonhava em ser jogador. Ele estava na 7ª série, hoje 8º ano, e tinha combinado com a mãe Ivania Serafini Perotti, que tentaria fazer um teste quando terminasse a 8ª série. Mas a vida antecipou o planejamento. “Tinha uma peneira em Vila Trentin [Jaboticaba], e ele foi fazer, era setembro e ele não tinha acabado a 7ª série. Mas deixei ele ir fazer com uns amigos”, afirma a mãe do atacante da Chapecoense.

A peneira duraria três dias. Só seriam chamados para o dia seguinte os que tivessem se destacado no primeiro dia. Pedro foi bem na “estreia” e foi selecionado para o segundo dia de testes, foi o único entre os amigos que tentaram chamar a atenção dos olheiros. 

– Um tio dele foi levar o Pedro para o segundo dia, e ele foi aprovado para o terceiro dia, e teria que ir com os pais. Ali eu senti que iam levar o Pedro [suspiros]. Me desesperei, comecei a pensar ‘vão levar o Pedro, vão levar o Pedro’, e tive de me acalmar. Fomos com ele e um dos olheiros estava muito impressionado. Ele repetia o tempo todo ‘o filho de vocês é ambidestro, isso é uma característica rara’ – recorda Ivania, 46 anos, técnica de enfermagem.

Pedro realmente foi selecionado, mas teve de renegociar o acordo feito com os pais. Encerrou o ano letivo mais cedo, antecipando a realização de provas e foi para Pelotas, em um centro de treinamento, onde começou a carreira oficialmente.

Dos tropeços até a glória

Já conhecidos pelos sobrenomes, Busanello e Perotti lidaram com problemas semelhantes assim que iniciaram suas carreiras. O lateral ligava diariamente para a mãe – e ainda hoje faz isso – para conversar sobre tudo e também desabafava com Maila. Ele ligava e dizia, ‘mãe eu treino bem, mas não ganho oportunidade’. Então eu dizia, ‘filho é teu sonho, tem que matar um leão por dia’. A gente sempre conversa, todo dia, sempre dando força, motivação”, conta Maila.

Em Pelotas, Perotti também conversava com a mãe, em uma relação na qual, ora era o menino que precisava de apoio e ora era Ivania quem necessitava ouvir a voz do filho para se acalmar. “[Pedro ter ido embora] doeu demais, muito mesmo. Aí eu parei para pensar em como estava sendo egoísta. Ele estava lá, seguindo o sonho dele. Mesmo assim dói tanto, mas é uma fase, a gente vai se acostumando. Eu sabia que ele estava bem e em busca do sonho dele. Fui superando e ficando forte”, relembra a mãe.

Aos poucos, os dois ganharam espaço. Busanello rodou por outros times antes de chegar ao elenco principal da “Chape”. Por sua vez, Pedro sofreu um “golpe” logo no início da carreira profissional. Na estreia pelo time catarinense, fraturou a mandíbula e teve de ficar um mês se alimentando por canudinho. Perdeu massa muscular, se recuperou rapidamente, brilhou no ataque das equipes juniores e, quando sonhava em chegar ao elenco principal, lesionou a patela. “Ele acreditou sempre e tenho orgulho disso. Se em algum momento ele pensou em desistir, ele nunca disse para nós. Queria que pensássemos que ele estava bem”, afirma Ivania.

Sonhos que viram responsabilidade

Para a alegria deles e das mães, Busanello, hoje com 22 anos, e Perotti, com 23 anos, viram seus destinos se cruzarem no melhor momento de suas carreiras. Hoje, o frederiquense é lateral titular do time, presença frequente na seleção da rodada do Campeonato Catarinense.

Se dentro de campo as coisas estão fluindo melhor do que nunca e ele vive a fase mais importante da vida profissional, fora das quatro linhas o menino de Castelinho também irradia alegria. Além de orgulhar a mãe por tudo o que é, ele vai dar à Maila a oportunidade de celebrar não apenas o Dia das Mães, mas também o Dia dos Avós. “Não sei se você ficou sabendo, mas o Gabriel vai ser pai”, comemora ela. “Eu só tenho gratidão. Por ver esse homem que ele está se tornando, humilde, corajoso. Muita gente gosta dele no Castelinho, as pessoas mais de idade falam dele. Essas qualidades não têm palavras para uma mãe descrever”, celebra Maila.

A alegria de Perotti também é a alegria de Ivania. Depois de tantas dificuldades, ver o filho pouco a pouco se tornando ídolo em Chapecó fez a mãe relembrar do menino que brilhava em intercolegiais e outros campeonatos em Rodeio Bonito.

– Estou feliz demais por ele. Por vê-lo realizando um sonho de menino. É muito bom ver ele jogando leve, confiante, da mesma forma que ele jogava aqui nos campeonatos de salão. Eu nunca tinha visto ele jogando assim em campo e estou vendo isso agora, estou vendo aquele menino de novo – comenta Ivania.

De um sonho improvável à realidade que ainda é difícil de digerir, o sucesso da dupla, com certeza, é resultado direto das atuações deles dentro de campo e da persistência fora dele. Mas, diante do apoio e da entrega de quem esteve ao lado deles mais do que ninguém, como Ivania e Maila, fica mais fácil entender por que e como Pedro e Gabriel se transformaram em Perotti e Busanello.

Fonte: O Alto Uruguai