Nos gramados, cada jogo é decidido por detalhes. Fora deles, a carreira de um jogador também depende de escolhas — especialmente quando se trata de dinheiro. No Brasil, poucos atletas alcançam cifras milionárias. A maioria vive uma realidade distante das imagens transmitidas pela televisão.
Dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), divulgados em 2023, mostram que o salário médio de um jogador no país é de R$ 5 mil. Mais da metade recebe menos de R$ 1 mil por mês, enquanto menos de 1% atinge a faixa entre R$ 200 mil e R$ 500 mil. Para muitos, a incerteza salarial é tão constante quanto o calendário de treinos e viagens.
Da lateral ao mercado financeiro
Juliano Tatto conhece essa realidade de perto. Natural de Frederico Westphalen, atuou profissionalmente entre 2008 e 2021, com passagens por Caxias, Cruzeiro-RS, União Frederiquense — onde integrou a conquista da Copa Valmir Louruz em 2015 — e Pelotas, clube no qual encerrou a carreira. Ao longo da trajetória, somou dois títulos da Divisão de Acesso, a Copa FGF e a Recopa Gaúcha.
Ainda como atleta, percebeu que o controle financeiro era tão importante quanto o preparo físico. O exemplo veio de casa: “Minha mãe nunca teve uma grande remuneração, mas sempre soube administrar o que tinha”, recorda. Em 2016, quando defendia o Caxias, começou a estudar o mercado financeiro, conciliando treinos, jogos e compromissos acadêmicos.
Planejamento como defesa
A experiência no futebol mostrou que o rendimento dentro de campo pode ser afetado pelo desequilíbrio financeiro. “O jogador pode ganhar pouco hoje e muito amanhã, mas se não cuidar, o dinheiro vai embora”, afirma. Ele lembra que, em muitos casos, o atleta sustenta familiares: “É o jogador que ajuda a mãe, o irmão, a família”.
O projeto criado por Tatto atende hoje 25 atletas, sendo 12 acompanhados diretamente e 13 de forma indireta. Entre eles, há jogadores da Divisão de Acesso e também da Série B do Campeonato Brasileiro, com rendas que variam de salários menores até mais de R$ 50 mil mensais.
Palestras e novos campos de atuação
Em 2025, Tatto palestrou para o Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Sul e defendeu a presença de consultores financeiros nos clubes. “A maioria dos atletas brasileiros vem de famílias humildes e nunca teve educação financeira ou alguém que falasse sobre isso. Então, acaba se tornando algo desconhecido”, observa.
Atualmente, ele atua em uma gestora de investimentos em Porto Alegre, mas mantém o vínculo com o futebol por meio da iniciativa. O objetivo é ampliar o alcance do projeto e atender também jogadores da Série A. “Quero contribuir para que mais atletas tenham condições de manter estabilidade durante e depois da carreira”, afirma.
Do sonho à sustentabilidade
Para Tatto, pensar no futuro faz parte da responsabilidade de quem vive do esporte. “Assim como um time precisa de tática para vencer, o jogador precisa de estratégia para manter o que conquista”, resume. No campo ou na planilha, ele reforça que a lógica é a mesma: “Administrar bem os recursos pode decidir o resultado final”.