Em seus 70 anos de existência, que serão lembrados em fevereiro de 2025, o Poder Legislativo de Frederico Westphalen teve apenas cinco mulheres vereadoras, sem considerar as suplentes que tomaram posse no período. Essa história de participação feminina começou a ser escrita em 1996, com Teresinha Gasparin Maglia, que foi a primeira mulher vereadora na Câmara de Vereadores frederiquense.
Com o objetivo de valorizar esse momento de pioneirismo e reconhecer a trajetória e contribuições de Teresinha ao município, estado e país, o Poder Legislativo aprovou, ainda no mês de abril, uma Moção de Aplausos à ex-vereadora. De autoria do edil Antonio Luiz Pinheiro (MDB), a Moção foi assinada por todos os parlamentares e entregue em Sessão Ordinária do dia 9 de julho. Inicialmente, a entrega da homenagem estava prevista para maio, contudo em razão das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, inviabilizando o deslocamento de Teresinha, que reside em Brasília desde 2003, o momento só foi possível no mês de julho.
– Há 28 anos, em outubro de 1996, com muita alegria e muito orgulho, fui eleita para uma legislatura que, pela primeira vez o Partido dos Trabalhadores elegeu seu primeiro representante e eu, uma mulher, ocuparia pela primeira vez uma cadeira nesta Casa Legislativa, cadeira essa que, em 41 anos de emancipação do município, nunca havia tido a honra de ser ocupada por uma mulher, pois a única que tinha sido eleita nunca assumiu, pois lhe foram cassados os votos. Minha passagem por esta Câmara se deu por dois anos, pois fui convidada pelo governo do Estado para assumir o trabalho de organizar as ações para com os povos indígenas do RS e coordenar o programa Troca-Troca de Sementes. Este trabalho deveria ter sido temporário e eu voltaria para meu município e para essa Casa. No entanto, minha exoneração nunca foi aceita pelo Piratini, em razão de pedido das comunidades indígenas, pela grande relação de confiança que se criou – relatou Teresinha, durante seu pronunciamento no ato da entrega da Moção.
“Teresinha foi a desbravadora das mulheres a ser guindada a um poder”
A ex-vereadora de FW também agradeceu o reconhecimento recebido pela Casa Legislativa. “Agradeço imensamente esta honraria e dizer que, apesar de ter ficado apenas dois anos nesta Câmara de Vereadores, o tempo em que aqui estive aqui, mais do que nunca, abriu meu coração para as causas sociais, dos menos favorecidos, marginalizados e discriminados. Meus sinceros agradecimentos ao vereador Antonio Luiz Pinheiro e demais edis por esta Moção de Aplausos”, finalizou Teresinha.
Durante o ato, Pinheiro falou em nome de todos os demais edis e parabenizou a homenageada pelo seu legado e por levar o nome de Frederico Westphalen pelo país afora.
– Essa atual gestão tem se notabilizado por reconhecer e prestar homenagem a todos aqueles que de alguma forma prestaram serviços à comunidade de Frederico Westphalen, empresários, trabalhadores, professores, enfim, todos aqueles que, de uma forma ou de outra, deram a sua parte para contribuir no desenvolvimento desta cidade. Mas essa homenagem que o Poder Legislativo presta, no teu caso, Teresinha, é sobre dois aspectos, o primeiro porque foi a desbravadora das mulheres a ser guindada a um poder, através do voto livre e universal da população, e o segundo também pelo que fez por FW. Em todos os setores por onde passou, sempre deixou a sua marca de dinamismo, de esmero, de vontade, de honestidade, e acima de tudo, o desejo de sempre fazer o bem para aqueles que mais necessitam. Por isso, vai contigo o nosso preito de gratidão por tudo que fez e está fazendo e representando dignamente Frederico Westphalen na Capital Federal – destacou o vereador.
Histórico da homenageada
Filha de Maria e José Angelo Gasparin, Teresinha Gasparin Maglia nasceu em Barão de Cotegipe, em 1956, mas com apenas cinco anos mudou-se para Frederico Westphalen onde residiu até o fim da década de 1990. É casada com João Batista Maglia há 48 anos, com quem teve três filhos, Marcelo, Alexandre e Cristiana. Em FW, foi catequista na Paróquia Santo Antônio durante 25 anos. Ao lado do esposo, também acompanhava o trabalho da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) no apoio às comunidades indígenas da região.
Em 1985, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores em FW. Em 1988, seu esposo João Batista foi o 1º candidato a prefeito pelo PT no município. Em 1996, por uma decisão familiar e partidária, concorreu a uma vaga no Legislativo frederiquense e foi eleita a primeira mulher vereadora de FW e a primeira representante do PT a ocupar uma cadeira na Câmara, um marco na sua vida pessoal e profissional, mas também um avanço na participação das mulheres na política local.
Como vereadora não chegou a ocupar nenhum cargo na Mesa Diretora, mas foi relatora em Comissões, além de ter acompanhado discussões importantes, tais como, sobre o orçamento municipal. Era, na época, uma das poucas vozes na oposição ao partido que estava na prefeitura, por isso participava de muitas reuniões nas comunidades para debater com a população suas necessidades. Também atuou regionalmente ajudando na criação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Atuou no Poder Legislativo nos anos de 1997 e 1998, quando foi convidada pelo governo do Estado para assumir o trabalho de organizar as ações para com os povos indígenas do RS e coordenar o programa Troca-Troca de Sementes. Na capital gaúcha, trabalhou no Gabinete de Reforma Agrária, no RS Rural Indígena e como coordenadora governamental no Conselho Estadual dos Povos Indígenas, até final de 2002. A partir de 2003, já em Brasília, atuou até 2017 como assessora para Assuntos Indígenas no Gabinete do Ministério da Justiça. Ao mesmo tempo, foi secretária executiva do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI).
Após 14 anos de Ministério da Justiça foi para o Ministério da Educação, na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos e Diversidade e Inclusão (SECADI). Atualmente, trabalha na Secretaria Nacional de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde.