O livro do escritor Paulo Coelho, “O diário de um mago”, inspirou muitos peregrinos e turistas a se aventurarem pelo Caminho de Santiago de Compostela. Com a servidora da Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen (UFSM/FW), Gracieli Fernandes, não foi diferente. No dia 27 de agosto, a técnica-administrativa em educação iniciou o trajeto francês, em Saint Jean Pied de Port, no Sul da França.
– O livro é bem místico e, quando li, há mais de 15 anos, eu decidi que gostaria de fazer esse caminho. Mas o tempo passou e foi depois da pandemia que comecei a pesquisar mais sobre isso e a me organizar. Entre os motivos que foram importantes para essa escolha estão a questão espiritual, uma melhor conexão comigo mesma, em um momento que me permite estar só; e também pelo desafio. Diferentemente das pessoas que vêm buscar respostas, não foi esse meu objetivo – explica a peregrina, que concluiu o trajeto no dia 24 de setembro, chegando a Santiago de Compostela.
A caminhada não é fácil e, para concluir o trajeto francês – que tem cerca de 800 quilômetros de extensão –, foram quase 30 dias. Em alguns, Gracieli caminhou mais de 30 quilômetros. “As pessoas dizem que ninguém volta o mesmo após percorrer o Caminho de Santiago. E, realmente, já nos primeiros dias, tive experiências incríveis. Há muitos ensinamentos. Muitas coisas, não são explicáveis, porque a pessoa precisa sentir. Além disso, pessoas do mundo todo fazem esse caminho, então, diariamente, encontro com gente de lugares diferentes. No início, foram muitos ingleses, franceses e italianos. E esse compartilhar é muito interessante”, detalha Gracieli.
Viver o hoje
Os principais ensinamentos que Gracieli compartilha se referem à importância do viver o hoje e também de saber ouvir. “Você está caminhando, cheio de dores nos pés e chega a um bar para comer um lanche. E você não pensa em mais nada, somente que está ali descansando, posteriormente se dando conta que estava aproveitando aquele momento. Além disso, em várias situações, falamos muito, mas não temos a capacidade de ouvir o outro, prestar atenção no que o outro está falando. E isso, vou levar para a vida toda. Eu já sabia que era uma mulher forte, mas aqui, descobri que sou muito mais forte do que eu pensava”, acrescenta.
As paisagens pelo caminho também merecem serem destacadas, pois além de belas, proporcionam momentos de reflexão ao peregrino. “Em vários momentos, eu estava caminhando sozinha, senti a energia do lugar, me senti viva. Chorei, sorri, tudo ao mesmo tempo, porque me senti parte daquele lugar. É uma jornada transformadora, que vou levar para minha vida pessoal, para o meu trabalho e para a minha vida”, finaliza.
O que é o Caminho de Santiago?
O Caminho de Santiago de Compostela tem uma história milenar, com a origem da sua rota original datando do século 19. A lenda conta que a descoberta do túmulo do apóstolo Santiago aconteceu em 829, quando um pastor encontrou o sepulcro num lugar remoto da Galícia. O bispo Teodomiro foi informado e comunicou-se com o rei Afonso II, que decidiu ir ao local para comprovar a descoberta. O Caminho de Santiago é um Patrimônio da Humanidade e o primeiro itinerário Cultural Europeu.
Existem vários itinerários para o Caminho de Santiago, incluindo o Caminho Francês que é o mais frequentado, com mais de 800 quilômetros. É considerado um dos mais bonitos, com uma variedade de paisagens; Caminho do Norte, com cerca de 800 quilômetros, passando junto à costa; Caminho Primitivo, com 300 quilômetros, sendo muito parecido com o roteiro original do Caminho de Santiago. É considerado um dos itinerários mais exigentes; Caminho Português, uma das rotas mais planas, com início clássico em Porto (Portugal); Vía de la Plata, que atravessa a Espanha de Sul a Norte, seguindo uma antiga estrada romana; Caminho de Finisterra, une Santiago de Compostela e o Cabo Finisterra, além de outros itinerários, como Rota Marítimo fluvial e Caminho Inglês.
