Ausência consentida
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segunda, 31 de janeiro de 2022

 O dia da Saudade é comemorado oficialmente no Brasil em 30 de janeiro sendo a origem etimológica de Saudade, oriunda do latim solitas (solidão), podendo ser singularizado como sentimentos de perda e distância, não havendo significação específica em outras línguas senão a portuguesa. Todos nós, em algum momento da vida, já sentimos saudade. Saudades da infância. Saudades dos genitores que já faleceram, dos avós. Saudades daquela comida que você só consegue saciar indo a casa da tia. Saudades dos tempos de faculdade. Saudades, muitas vezes, até do que ainda não se viveu, como se fosse um déjà vu – sensação de já ter feito ou visto algo, porém sem que isso tenha de fato ocorrido, porém, dizem que a maior saudade ainda é a de um amor. Falabella bem descreve essa saudade dolorida: "Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber.”
Diante de tantos tipos de saudades, nada mais nobre do que a “ausência consentida”, ou seja, aquela que você permite acontecer por saber que será melhor para alguém. Nessas horas, palavras como “nunca” e “sempre” são lembradas como promessas difíceis de cumprir, mas que por algum momento, nos deram o conforto necessário. Nesse paradoxo entre lembrar ou seguir, não é necessário optar desde que a saudade possa aos poucos se transformar em doces lembranças. Se no começo a dor é esmagadora, no futuro se transforma em olhares para a lua e até sorrisos, sabendo que de alguma forma, pessoas que fizeram parte de nossa vida jamais nos deixam, pois são guardadas em um cadinho de nosso íntimo. A estranheza que causa as ausências, consentidas ou não, trabalham nossa força interior para superação e nos faz projetar novos horizontes não sendo lugar-comum a referência ao lendário pássaro mitológico Fênix – conhecido por sua força em renascer das próprias cinzas. Na verdade, estamos sempre renascendo de algo e, que bom que existe a possibilidade de se reinventar. 
Consentimos as ausências dos afetos que agonizam em um leito de hospital, por mais doído que possa ser a já sentida saudade. Há também o consentimento de ausências que nem pediram para estar conosco, mas que insistem em estar em nosso convívio. Aqui, podemos listar todo ser tóxico que tenta nos tirar a paz. Daí, mesmo em havendo obrigatoriedade na tal convivência - ambientes de trabalho são um belo exemplo -, se dentro de nós a essência que pulsa é a do desapego, nada nos atingirá. O que precisamos entender é que podemos "esquecer" mesmo convivendo. Garanto… A vida muda para melhor e quando você percebe, aquele e-mail desaforado e provocativo que você recebeu, já não lhe causa nenhum mal.
Se esquecer de alguém é como remover raízes de árvores, requer tempo e paciência. Então, a ideia é remover as raízes (as perdas) sem danificar a árvore (você).
Bons Ventos! Namastê.
 

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