O tema do “servo sofredor”, presente nas profecias de Isaías (53,12), que o Evangelho aplica a Jesus revelam um aspecto importantíssimo da vida e da missão do Senhor.
Jesus assume este título e esta missão, sem o medo de escandalizar seus discípulos. Esta concepção de um Messias como servo sofredor era o que de mais escandaloso se poderia dizer para as expectativas dos judeus do tempo de Jesus. Eles, naquela época, esperavam um Messias libertador do poder romano, que devolvesse a Israel toda a glória de um reino humano, marcado pelo poder e fortaleza perante os demais povos. Por isso, a reação de São Pedro, no Evangelho, repreendendo Jesus por falar da Paixão e do sofrimento pelo qual deveria passar, para a Redenção da humanidade, é a reação da lógica humana que vê no sofrimento um mal absoluto.
Jesus quer nos fazer entender a lógica de Deus, a ter uma visão sobrenatural dos acontecimentos de nossa vida. Ou seja, Ele quer nos ensinar a raciocinar segundo os critérios de Deus e não segundo os critérios do sucesso humano. Ele nos ensina que a cruz deve fazer parte de nosso dia a dia, que é preciso abraçá-la e acolhê-la amorosamente, entregando a cada dia a própria vida por amor a Deus e aos irmãos. Isto muda a nossa compreensão do que significa ser cristão. Não é uma questão de crer em Deus, apesar dos sofrimentos da vida. Mas sim de seguir a Jesus no caminho da cruz, da renúncia ao próprio egoísmo.
Na 1a Leitura deste Domingo (Isaías 50,5-9) o profeta nos apresenta a figura do Servo sofredor. É aquele que aceita com docilidade sua missão de redenção e não recua diante das dificuldades que se apresentam, até mesmo das ofensas e agressões.
De onde este servo de Deus tira suas forças? Ele confia no auxílio do Senhor. Mesmo perseguido, ultrajado e condenado, tem a certeza da vitória, pois sua vida está nas mãos de Deus.
Continuando a ler trechos da Carta do Apóstolo São Tiago, na 2a Leitura (Tiago 2,14-18) o texto deste Domingo nos fala que o bem que se deve efetuar para com aqueles que precisam não pode resumir-se a bons desejos, boas intenções. Para quem é filho de Deus, o amor concreto deve ser a expressão viva da fé.
O texto do Evangelho deste Domingo (Marcos 8,27-35) nos faz compreender como para um discípulo de Jesus é importante não só reconhecer que Ele é o Messias Salvador, mas é necessário anunciá-lo como tal, sem distorcer o que devemos entender por esta Missão de Jesus.
Nosso Senhor não se apresenta como Messias de projetos humanos, voltado para o sucesso e para os aplausos da sociedade. A Missão de Jesus é a de oferecer-se como vítima pelas infidelidades da humanidade e através da reparação obtida pela cruz, trazer a salvação para todos.
Com seu exemplo, Ele ensina que este, fundamentalmente, é o caminho dos cristãos que são chamados a seguirem o Mestre através de uma vida de entrega e de generosidade, oferecendo-se também como vítimas unidas a Jesus para o bem de todos.
A morte de Jesus na cruz e os sofrimentos que somos chamados a experimentar e acolher amorosamente em nossas vidas não são fins em si mesmos. São os caminhos que somos chamados a trilhar, para que unidos a Jesus, possamos corredimir a humanidade, oferecendo a Deus um mundo renovado e fiel. Para isto, busquemos a força divina no Sacramento da Eucaristia.