Nenhum povo contribuiu tanto para compreensão da política como os gregos da antiguidade, por conta do legado de lendas e mitos como forma de explicar fatos políticos, econômicos e sociais. Conta a mitologia que Zeus ordenou a Hermes que distribuísse indistintamente aos homens: pudor e justiça, pois seu temor era de que os homens fossem exterminados, uma vez que a inteligência havia sido roubada pela deusa Atena. Assim, preconizou a justiça para que se fizessem as leis e o pudor para que as leis fossem respeitadas sendo que aquele que não tivesse tais adjetivos, deveria ser eliminado da sociedade pois seria um flagelo para ela. Penso como seria se tais preceitos estivessem vigentes? Ora, boa parte da humanidade seria exterminada, pois definitivamente: justiça e pudor não estão fazendo parte da nossa cartilha. Nosso poder político através do voto, em busca da “dike” (conceito de justiça para Aristóteles), nos lembra da responsabilidade enquanto cidadãos de eleger aqueles que possam legislar com sabedoria. Do contrário, seremos iguais aos servos errantes, citados por Platão em o “Mito da Caverna”, ignorantes e à mercê dos governantes. Embora exista um sentimento coletivo de descrédito a ponto de muitos concordarem com Ronald Reagan ao se referir a política “Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira”, a força das urnas pode reverter quaisquer situações malfazejas e fazer brotar esperança por dias melhores, por isso “Dá teu voto inteiro; não uma simples tira de papel, mas toda a tua influência” (Henry Thoreau). Voltando aos gregos em busca de luz, autores como o italiano Mauro Bonazzi, promete explicações para vida contemporânea em sua obra “Com os olhos dos gregos. A sabedoria antiga para os tempos modernos”, onde o leitor é levado em uma longa caminhada, em que os filósofos gregos conversam com seguidores modernos ou mesmo personagens da cultura popular. Bonazzi mostra que muitas das perguntas de hoje já foram abordadas por pensadores antigos e que por trás de cada evento encontra-se uma questão filosófica como possível explicação. Ainda, o autor alerta para tendência de colocar em autores clássicos, justificativa para ideias que trouxeram consequências perigosas e imprevisíveis para o mundo. Conclui, incitando a continuarmos a reflexão com os tantos acontecimentos que nos cercam, estando por satisfeito, se nos moveu a começar a pensar. Platão havia imaginado uma república perfeita, onde o governo deveria ficar na mão dos filósofos. Oxalá nossos políticos comunguem um pouco de filosofia...
Bons Ventos! Namastê.